terça-feira, 25 de junho de 2013

A FORÇA DA INTELIGÊNCIA NA SUA VIDA

Pesquisas revelam que as pessoas com QI elevado têm também inteligência emocional com alto potencial e boas chances de realização pessoal e profissional. Sabe-se agora que o nível de inteligência da humanidade tem aumentado muito. E, segundo os especialistas, existe um arsenal de recursos para expandir a capacidade mental das pessoas sobretudo a inteligência das crianças.


O Poder da Inteligência
 
A Mensa Brasil é o braço brasileiro de um clube internacional (com site na internet no endereço www.mensa.org), nascido na Inglaterra em 1942, que reúne alguns dos donos dos mais altos quocientes de inteligência (QIs) de todo o planeta. Conversar com essa gente é uma experiência que comprova algumas das últimas descobertas feitas pelos cientistas que pesquisam a inteligência e o comportamento humanos. Essas pessoas tendem a ser mais curiosas, seus interesses abrangem um universo maior e a relação delas com o mundo é mais rica. Há os gênios ranzinzas e os sábios ermitãos, mas tudo indica que estes são exceção à regra. Pelo que a ciência vem reafirmando, o quociente de inteligência medido pelos testes mais tradicionais (aqueles que detectam a capacidade de raciocínio linguístico, matemático e lógico) indica também o potencial da pessoa para se relacionar com os outros e para enfrentar os problemas do dia-a-dia.
 
Nessa perspectiva, o QI seria um fator importantíssimo para o sucesso na busca da felicidade. "As pesquisas têm demonstrado que as pessoas com menor quociente de inteligência tendem a ter pior performance na escola, carreiras profissionais problemáticas, laços familiares frágeis e, por tudo isso, a apresentar mais frequentemente quadros depressivos", diz a psicoterapeuta americana Cathi Cohen, que trabalha com programas de treinamento de crianças em Washington e há quinze anos pesquisa a relação entre inteligência e felicidade.
 
O roqueiro Roger Rocha Moreira, do grupo Ultraje a rigor, tem 44 anos e QI 172 - altíssimo. O QI médio fica entre 90 e 110. Ele está em uma das fotos que ilustram a abertura desta reportagem. Roger se alfabetizou sozinho aos 3 anos de idade, pulou a 4a série primária porque já sabia tudo que estava sendo ensinado e chegou ao 2o ano do curso de arquitetura antes de decidir seguir carreira musical. "Sempre consegui tudo que quis", ele diz. Há outros exemplos de pessoas inteligentes, bem sucedidas e bem conhecidas dos brasileiros nas páginas seguintes. Como se verá, quem tem alto quociente de inteligência não precisa necessariamente ter um diploma em física quântica. O QI de Jayne Mansfield, símbolo sexual produzido para fazer frente a Marilyn Monroe, era 163. O ator James Woods estudou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o renomado MIT. No teste para entrar na escola acertou as 800 questões de conhecimentos gerais e 779 das 800 de matemática. Seu QI: 180. E a atriz Sharon Stone, que sempre é lembrada pela cruzada sensacional de pernas que dá no filme Instinto Selvagem, entrou na universidade aos 15 anos de idade e tem QI 154.
 
Não tão famoso, o médico e neurocirurgião paulista Joel Augusto Ribeiro Teixeira, 32 anos, é o presidente da Mensa Brasil. Sua mulher, Márcia Hartmann Teixeira, neurologista e musicista nas horas vagas, também é sócia da Mensa. Convivendo com computadores, filmes falados em inglês, videogames e com os amigos dos pais, os dois filhos, Felipe, de 1 ano e meio, e Marina, de 3 anos e meio, desenvolveram habilidades precoces. Felipe canta várias músicas de cor e reconhece notas musicais. Marina começou a falar aos 8 meses e aprendeu a ler sozinho aos 3 anos. E canta música em inglês sem nunca ter aprendido a língua - apenas repetindo o som que escuta.
 
A família de Joel é um exemplo de outra conclusão a que os pesquisadores da mente humana estão chegando: de que o QI médio da população mundial tem se elevado. E não pouca coisa. Na Inglaterra, o salto foi de 27 pontos desde 1942. Nos Estados Unidos, foram 12 pontos desde 1932. Na Holanda, em dez anos se registrou um salto de 20 pontos, e, na Argentina, 22 pontos a mais desde 1964. Em 25 países onde as medições acontecem de forma regular, verificou-se um progresso notável no nível intelectual da população, e os pesquisadores acreditam que a descoberta pode ser generalizada para o planeta. "as transformações são dramática", diz Oliver Sacks, neurologista inglês, professor no Albert Einstein College of Medicine, de Nova York. "Devem estar ocorrendo mudanças e reorganizações fisiológicas e anatômicas na microtextura do cérebro que ainda não podemos entender plenamente." A inferência que se pode fazer é a seguinte: com uma cabeça melhor, o quociente de felicidade da humanidade, por assim dizer, também deve estar mais alto.
No Brasil a prática da medição do QI não é muito difundida. Normalmente os testes são aplicados em crianças que apresentam comportamento destoante na escola, no clube ou em casa. São crianças que têm deficiências de aprendizagem ou de relacionamento social. Portanto o Brasil não contribui com informações para os trabalhos feitos por neurologistas e psicólogos. A instituição que aplica provas regulares e formais no país - e isso há apenas um ano - é a Mensa Brasil.
 
Outro exemplo da evolução generacional da inteligência é do da família de Carlos Leite, engenheiro. Leite tem QI 164. É um expoente na faculdade, adora matemática, toca guitarra, lê tudo que lhe cai nas mãos. Um de seus sobrinhos, no entanto, conseguiu superar o índice já alto do tio no teste de QI. Pedro Moreira Graça, de 15 anos, tem QI 168 e seu irmão, André, de 16 anos, chega aos 152. Quando criança, André observava a irmã mais velha aprendendo a ler. Aos 4 anos, numa pizzaria, leu o cardápio e escolheu o sabor de sua preferência. A máxima de André: "Ser inteligente não é saber muita coisa. É saber o que é necessário". Pedro quer estudar filosofia e psicologia. André prefere composição musical. Os irmãos são diferentes em várias coisas. Em comum, possuem uma inteligência excepcional, maior que a do tio-cabeça.
As explicações mais razoáveis para elevação do nível médio de inteligência da população têm a ver com alguns dos processos do mundo moderno. São as seguintes:
  • As pessoas estão mais expostas a informações, estímulos visuais e desafios .
  • As famílias são menores, o que permite aos pais dar mais atenção aos filhos, responder a suas perguntas com maior paciência.
  • O trabalho, de forma geral, exige maior esforço mental e faz com que as pessoas aprimorem seus conhecimentos lendo ou viajando.
  • Até as atividades de lazer demandam maior conhecimento hoje que no passado.
  • Computadores, videogames e holografias formam cérebros acostumados a lidar com várias dimensões e aumentam o poder de concentração.
  • O novo modelo de escola permite que as crianças mostrem e desenvolvam seus interesses. Aulas monótonas estão cada vez mais em baixa. Os alunos estão mais interessados em entender processos que em decorar dados.
  • A globalização amplia a universo individual e familiar, põe o indivíduo em contato com culturas, línguas e costumes diferentes.
Há um efeito multiplicador na inteligência. Pessoas inteligentes e competentes são estimuladas por ambientes mais ricos em informação, mais livres para a criatividade. Vivendo nesses ambientes, elas provocam mudanças, oferecem novos estímulos e ensejam o crescimento daqueles com quem convivem. Assim, a média da inteligência da população sobe. "O QI das pessoas é afetado pelo ambiente e pelos genes e o ambiente em que vivem é determinado pelo seu QI", diz Willian Dickens, pesquisador da Brookings Institution , dos Estados Unidos, autor de um artigo sobre o tema na edição de abril da Psychological Review, revista publicada pela Associação Americana de Psicologia. Está aí algo a que se deve prestar muita atenção. "É visível que as crianças são mais inteligentes hoje que no passado . Elas são capazes de dominar um universo muito grande de informações e instrumentos e se adaptam com facilidade a situações novas", diz Ricardo Costa Mesquita, diretor pedagógico da escola Oswald de Andrade, em São Paulo.  
"Nem todos os educadores estão preparados para lidar com esse novo público e por isso os pais devem ter um cuidado especial com seus filhos no momento atual."
Hector Montenegro Terceros tem 9 anos de idade e mora em São Paulo. O pai é engenheiro eletricista e a mãe, historiadora. Quando estava na pré-escola, Hector aprendeu a ler e escrever em apenas duas semanas. A professora, percebendo a precocidade do garoto, aplicou-lhe uma avaliação de nível de raciocínio e descobriu que ele era mais rápido que os colegas. Hector estudava numa escola particular bem conceituada, mas com um método de ensino que tende a ignorar as diferenças intelectuais entre os alunos. Baseava-se fortemente na memorização. O menino tirava notas altas, mas estava sempre infeliz. Não tinha muitos amigos. Não podia aprofundar os assuntos para não alterar o ritmo da classe. "Ele estava sempre deprimido", lembra o pai, Carlos Juvenal Terceros Siles. Há dois anos os pais do menino concluíram que, sem ajuda profissional, o filho se despedaçaria emocionalmente.

100 pontos
Em 1932, nos
Estados Unidos, este é o
QI médio das crianças

112 pontos
Usando a mesma
escala, o QI dos americanos,
hoje, é 12 pontos maior
Os traços comuns da inteligência na infância
Dez sinais que indicam atividade cerebral intensa e produtiva, segundo o psicólogo e pedagogo americano Frederick Tuttle, autor do best-seller Características e Identificação sem tradução para o português
  • Curiosidade
  • Persistência e empenho na satisfação de interesses
  • Capacidade de autocrítica e de criticar os outros
  • Bom humor
  • Facilidade de propor idéias diante de um estímulo novo
  • Liderança
  • Capacidade de se indignar diante de injustiças
  • Facilidade de adaptação a desafios novos
  • Imaginação e fantasia sob controle
  • Facilidade de relacionar informações aparentemente diversas e distantes
 
Levaram-no para fazer uma avaliação psicológica que incluía um teste de QI. Descobriram que Hector tinha inteligência acima da média, 135. Mudaram o garoto de escola. Hoje ele estuda no Colégio Objetivo, que tem um programa de incentivo aos supertalentos. Faz cursos extracurriculares, entre eles um de tecnologia e outro de literatura. "Antes me sentia muito abafado. Agora tenho colegas da minha e de outras classes. Estou muito mais feliz", diz Hector.
O menino Raphael Ramos, de 4 anos de idade, deu um susto na mãe quando, num fim de semana no sítio, foi brincar com um jogo de conhecimentos gerais e, de setenta perguntas, errou apenas dez. No mês passado, Raphael estava fazendo uma bateria de testes para avaliar sua inteligência. O QI: 139. O psicólogo descobriu que o menino tem capacidade de abstração, de compreensão de conceitos, de manutenção e memória visual verbal muito grande. Seu problema mais grave: como não quer que os coleguinhas do jardim-de-infância achem que ele é diferente, finge que não sabe ler nem escrever. "Raphael precisa ter atividades de grupo, estar sempre entre crianças. Se seu relacionamento social não for bem trabalhado, ele acabará se isolando". Explica Daniel Fuentes, neuropsicólogo do Hospital das Clínicas de São Paulo. A moral dessa história é a seguinte: é preciso estar atento aos desafios que cercam até mesmo os mais inteligentes.  
Hoje é consensual a ideia de que o cérebro é um órgão com enorme capacidade de adaptação e expansão. Mais trabalho, ele desenvolve mais ligações entre neurônios, as chamadas sinapses. Pessoas cujo cérebro tem mais sinapses raciocinam mais rápido e resolvem problemas de modo mais eficaz. Para desenvolver uma teia mais complexa não basta o trabalho exaustivo sobre livros e computadores. Estão recomendadas também conversas, passeios, viagens. Cultivar amizades e promover brincadeiras são práticas importantes. Então, mãos à obra. O trabalho que se exige para o desenvolvimento da inteligência não é assim tão enfadonho.

Talentos Famosos
QI 180 - James Woods - atorQI 163 - Jayne Mansfield - atrizQI 154 - Sharon Stone - atriz
Por que as crianças ficam mais inteligentes a cada geração
Uma pesquisa feita no início do ano pela Faculdade de Psicologia da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, descobriu que a média do QI das crianças, em uma dezena de países, subiu mais de 20 pontos nos últimos cinqüenta anos. As razões, segundo os pesquisadores, são as seguintes:
  • As famílias são menores, o que permite aos pais dar mais atenção a cada um dos filhos;
  • Os empregos demandam mais atividade intelectual, o que obriga as pessoas a se atualizarem permanentemente. Pais intelectualmente ativos estimulam seus filhos a ser da mesma forma;
  • Nos momentos de lazer, até mesmo para manterem uma conversa com amigos, as pessoas têm de estar atualizadas e bem informadas. O ambiente induz a uma atividade intelectual mais intensa;
  • Os equipamentos eletroeletrônicos e de comunicação domésticos ajudam a formar crianças com habilidades múltiplas. Mexendo no computador, mudando o canal da televisão e ouvindo música, a criança exercita a memória e treina a capacidade de manter a atenção mesmo tempo;
Ensinando a pensar Um método para estimular a inteligência das crianças
Há 25 anos Myrna Shure, professora na Universidade de Ciências da Saúde da Filadélfia, vem aplicando em grupos experimentais, nos Estados Unidos, um método que desenvolveu para que pais e professores ensinem as crianças a pensar. Neste ano Myrna lançou um livro, Raising a Thinking Child, que é uma espécie de manual para pais que queiram estimular a inteligência de seus filhos e está entre os mais vendidos no país. É um roteiro de jogos de conversa. Pais e professores devem trabalhar algumas palavras e expressões até que elas tenham significado para a criança e seu raciocínio vá se tornando mais complexo. Algumas das palavras-chave e sugestões de perguntas para diálogos a serem explorados desde que a criança começa a balbuciar são as seguintes:
  • É/NÃO É - "Você é um menino. O que você não é ?"
  • E/OU - "Devo comprar laranjas ou maçãs? Ou devo comprar laranjas e maçãs?
  • "POR QUE - "Por que você acha que é importante usar cinto de segurança?"
  • IGUAL/DIFERENTE - "O que estas duas bolas têm de igual e o que têm de diferente?" Você consegue fazer coisas diferentes, como sentar e pular, ao mesmo tempo?"
  • TRISTE/FELIZ - "O que sente uma pessoa que está chorando? Como você sabe?" "Como você está se sentido agora?"
  • AGORA/DEPOIS - "À tarde a mamãe tem de trabalhar. Você quer assistir à televisão agora ou prefere brincar com a mamãe e deixar a TV para depois?"
  • ALGUNS/TODOS - "Neste jardim todas as flores são vermelhas ou há algumas amarelas?"
  • ANTES/DEPOIS - "Eu mexo o leite com a colher antes ou depois de ter posto o chocolate em pó?" "Você bateu no menino antes ou depois dele ter lhe xingado?"
  • BOA HORA/MÁ HORA - "Como você acha que eu me sinto quando estou conversando e você me interrompe? Esta é uma boa hora para você falar comigo?"

                                            Inteligência é conhecer a si mesmo
Professor da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, o neurologista português Antônio Damásio divide com o inglês Oliver Sacks o título de grande estudioso da mente humana, com uma vantagem para o público leigo: os dois são capazes de traduzir o que descobrem em linguagem coloquial. Damásio especializou-se na consciência, a função mental que dá às pessoas a sensação de serem únicas no mundo e, portanto, permite o reconhecimento da existência do outro. Para Damásio, a fronteira final do estudo da inteligência será alcançada quando se desvendar a maneira pela qual a mente aprende a aprender. Abaixo, a entrevista concedida a Denise Ramiro, de VEJA. (O estudioso dos mecanismos da consciência fala sobre a evolução da capacidade mental. ANTÔNIO DAMÁSIO - neurologista português é dos maiores pesquisadores da mente humana). 
Veja - Considerando que o computador disponibiliza uma enorme riqueza de imagens e informações, comparando as pessoas de hoje com as de vinte anos atrás pode-se dizer que hoje há mais inteligência?
Damásio - O meio muito rico em que vivemos atualmente, com televisão, cinema e computador, leva nosso cérebro a ter uma agilidade maior. Mas isso não é tudo. Ao mesmo tempo que a tecnologia permite que as pessoas tenham acesso a maior volume de informações, pode inibir a capacidade de decisão e de imaginação. É preciso, portanto, aprender a lidar com as novidades para que elas sejam bem aproveitadas. 
Veja - Por que os testes de QI estão voltando?
Damásio - O teste tradicional de medida do quociente de inteligência, o QI, é expressão de uma capacidade geral de inteligência. Ele é especialmente útil se considerar que a maior parte das pessoas que sobressaem num tipo específico de inteligência (emocional, artística ou motora, por exemplo) tem também um QI elevado. Isso porque toda a atividade humana é resultado de uma combinação de fatores intelectuais e emocionais. Ou seja, a sensibilidade é muito importante, mas a capacidade de raciocínio, que está ligada à inteligência, também tem um enorme papel a desempenhar. 
Veja - Existe uma fórmula para garantir que os filhos sejam inteligentes e bem-sucedidos?
Damásio - Não há uma fórmula, mas existem algumas regrinhas básicas. Garantir que a criança tenha boa saúde, desde a gestação, é fundamental. Depois, é importante oferecer um ambiente de carinho e que seja rico e estimulante, do ponto de vista intelectual e emocional. Com isso, a criança poderá desenvolver sua inteligência e terá mais chances de ser feliz. 
Veja - Estão no cérebro as razões do sucesso ou insucesso das pessoas?
Damásio - As características físicas do cérebro ajudam a determinar o destino das pessoas, sua possibilidade de ser feliz ou infeliz. Mas não é só isso. O destino também é resultado do meio social e cultural em que nos desenvolvemos. A maneira como as pessoas enfrentam a vida e os resultados que obtêm é consequência de uma combinação de fatores biológicos, que vêm de nossa estrutura física cerebral, e culturais, que têm a ver com a forma como cada um de nós se desenvolveu na estrutura familiar, escolar e social no sentido mais amplo. Sou totalmente contra as ideia de que tudo aquilo que somos é determinado pela carga genética que carregamos e pela nossa estrutura física. 
Veja - O que ocorre em nosso cérebro que nos faz tomar conhecimento do que acontece no mundo?
Damásio - São os mecanismos da consciência de que trato no meu livro O Mistério da Consciência. Nosso cérebro elabora uma construção não só das imagens do que acontece no mundo, mas também da nossa própria imagem. É através dessa imagem, que relaciona corpo e objeto, que vamos construir o sentido da consciência, o sentido do próprio e a capacidade que temos de conhecer aquilo que acontece à nossa volta. 
Veja - As pessoas costumam achar que decidem e pensam melhor quando estão de cabeça fria, livres de emoções. Esta é uma impressão correta?
Damásio - É uma impressão totalmente errada. As emoções são extraordinariamente importantes no processo de decisão. A emoção faz parte do mecanismo neurológico da decisão.

Superdotação Intelectual

A Superdotação caracteriza-se por um desenvolvimento intelectual acima da média, podendo representar especificidades em diversos campos do conhecimento.
               
 O desenvolvimento de uma habilidade significativamente superior a da média da população marca a Superdotação     
O desenvolvimento de uma habilidade significativamente superior a da média da população marca a Superdotação         

O que é Superdotação Intelectual?
A Superdotação Intelectual é caracterizada pelo desenvolvimento de uma habilidade significativamente superior a da média da população em alguma das áreas do conhecimento, podendo se destacar em atividades como: acadêmicas, criativas, de liderança, artísticas, psicomotoras ou de motivação. O sujeito da Superdotação é conhecido como superdotado, talentoso ou portador de altas habilidades. Existem ainda outras caracterizações, como precocidade, prodígio e genialidade.

Uma criança superdotada é um gênio?
Existem diferentes gradações para o fenômeno da Superdotação intelectual. Entre elas, destacamos a precocidade, o prodígio e a genialidade que, segundo o ConBraSD (Conselho Brasileiro para a Superdotação), podem ser descritas da seguinte forma:

Precocidade: aplica-se a crianças que desenvolvem certa habilidade de maneira prematura, anterior ao tempo previsto para a grande maioria das crianças, o que pode acontecer em qualquer área do conhecimento como música, literatura, matemática ou linguagem.

Prodígio: o termo “Criança Prodígio” é empregado para o desenvolvimento de alguma característica rara ou extrema, que não se enquadraria no curso normal do desenvolvimento natural. O exemplo mais usado é o pianista Wolfgang Amadeus Mozart que começou a tocar piano com apenas três anos de idade.

Genialidade: é o termo reservado para pessoas cuja habilidade gerou contribuições extraordinárias para a história da humanidade. É o caso de estudiosos como Einstein, Gandhi, Freud, Portinari e do próprio Mozart.
Nos três casos, tratamos de pessoas que podemos dizer terem sido dotadas de altas habilidades, ou superdotadas.

Como é feito o diagnóstico da Superdotação?
Ao longo dos anos, inúmeras propostas foram desenvolvidas para avaliação e diagnóstico da Superdotação intelectual, baseadas em testes de inteligência, avaliação de padrões comportamentais e de condições de desenvolvimento. Para alguns autores, existem três condições fundamentais para o diagnóstico: habilidade acima da média, comprometimento com a tarefa e criatividade. Outros autores defendem propostas multidisciplinares para o desenvolvimento de um diagnóstico e de propostas interventivas.

Existem características específicas da Superdotação Intelectual?
Cada criança é diferente e reage de forma diferente aos estímulos tanto em casa quanto na escola. Apesar disso, alguns aspectos podem ser evidenciados na interação com indivíduos superdotados, como:
- precocidade no desenvolvimento de habilidades físicas precoces (sentar, andar, falar), no reconhecimento de seus cuidadores, na aquisição da linguagem, no conhecimento verbal e na leitura;
- alto grau de curiosidade intelectual (elaboração de perguntas mais sofisticadas) e persistência para obter respostas;
- aprendizagem rápida, com instruções mínimas;
- sensibilidade desenvolvida;
- altos níveis de energia (o que muitas vezes pode levar a ser diagnosticado como Hiperativo);
- preferência por brincadeiras individuais ou por interação com pessoas mais velhas;
- raciocínio lógico e abstrato bastante desenvolvido;
- interesse por temas e discussões filosóficas, morais e sociais.

Quais são os problemas enfrentados por sujeitos superdotados?
Apesar de parecer que os sujeitos superdotados são extremamente adaptados e que, portanto, estariam livres de problemas de socialização e compreensão, algumas dificuldades podem surgir ao longo da vida, entre elas, podemos destacar: perfeccionismo; hipersensibilidade do sistema nervoso; resistência a interrupções e mudanças na rotina; impaciência com detalhes; pensamentos divergentes em relação aos dos colegas, que podem gerar discriminação ou inconformismo; pouca dedicação ou desinteresse por novas formas de resolução de problemas, gerando baixo rendimento acadêmico; repulsa por estruturas rígidas de aula; rebeldia e oposição às pressões sociais; sarcasmo exacerbado.

Como saber mais?
O tema da Superdotação Intelectual demanda discussões aprofundadas, que têm sido realizadas com êxito ao longo dos anos. Em decorrência disso, a legislação brasileira tem destaque nas medidas educativas para sujeitos com altas habilidades. Entre as cartilhas de leitura indicadas, está o material “A Construção de Práticas Educacionais para Alunos com Altas Habilidades / Superdotação”, desenvolvido pelo Ministério da Educação e pela Secretaria de Educação Especial, que é extremamente rica nas descrições e propostas interventivas.
Para iniciar discussões, alguns exemplos midiáticos também podem ser interessantes. O seriado “Parenthood” conta a história da família Braverman que tem, entre seus entes, uma criança superdotada (Sydney Graham). Apesar de aparecer em poucos episódios, Sydney apresenta comportamentos marcantes e podem servir como ilustração para discussões.

Juliana Spinelli Ferrari
Colaboradora Brasil Escola
Graduada em psicologia pela UNESP - Universidade Estadual Paulista
Curso de psicoterapia breve pela FUNDEB - Fundação para o Desenvolvimento de Bauru
Mestranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP - Universidade de São Paulo

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Susana Peres explica como identificar uma criança superdotada


'O ensino não está pronto para receber superdotados', diz professor

Estimativa aponta que até 39 mil crianças sejam superdotadas no Paraná.
Dessas, apenas 526 em idade escolar recebem acompanhamento.


A Organização Mundial da Saúde estima que de 3% a 5% da população mundial pode ser chamada de “superdotados”. No Paraná, de acordo com a Secretaria de Educação (Seed), o número de alunos com essa condição, entre o 6º ano do ensino fundamental e o 3º ano do ensino médio, pode chegar a 39 mil pessoas.
Para o professor André Ribas, que há quase nove anos cuida da primeira sala de recursos destinada ao atendimento desses alunos no Paraná, um dos problemas que dificulta a identificação desses alunos está no próprio ensino. "A escola ainda é a mesma que eu frequentava há 20 anos, que meus pais frequentavam há 40. O ensino não está pronto para recebê-los”, acredita Ribas.
A preocupação dele é compartilhada pela Secretaria da Educação. Segundo a técnica pedagógica Denise Matos Lima, que trabalha no Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional, um dos motivos para o atendimento ainda não ter alcançado números maiores é a dificuldade de identificação dos alunos e a novidade que o atendimento diferenciado a eles representa na pedagogia. "As universidades ainda não formam os professores para identificar os alunos que possuem altas habilidades. Eles costumam receber formação justamente para o contrário, ajudar os alunos que têm dificuldades", diz.

Ribas diz que materiais usados com os alunos geralmente são doados (Foto: Samuel Nunes/G1)
Ribas diz que materiais usados com os alunos geralmente são doados (Foto: Samuel Nunes/G1)
Descobrindo superdotados

 O professor Ribas diz que um dos primeiros locais em que os alunos superdotados são identificados é dentro das próprias famílias. Ele explica que, para essas crianças, a fase dos "porquês" nunca passa. “Elas são mais curiosas e estão sempre questionando tudo e todos. Costumam chamar os professores de burros, às vezes não gostam de ir à escola, o que é óbvio, já que elas selecionam o que querem aprender. Quando algo não lhes interessa mais, passam para o próximo tópico”, conta.
Caso haja uma identificação das habilidades cognitivas do aluno, a criança é encaminhada para a sala de recursos. Dali, ela vai para uma avaliação com um psicólogo, que emite um laudo apontando os pontos em que a criança está acima da média e aqueles em que ainda precisa ter um acompanhamento melhor. “Nós também trabalhamos para deixar essa área [deficitária] o mais próximo possível da média dos demais alunos”, pontua Ribas.
Quando o laudo chega às mãos do professor que coordena a sala de recursos, é preciso encontrar formas de adaptar os materiais às habilidades que o aluno possui. Para isso, são usadas diversas ferramentas que variam desde jogos até projetos acadêmicos, em parceria com outras instituições de ensino e com a comunidade.

Atendimento
A sala comandada por Ribas funciona no Instituto de Educação do Paraná Erasmo Pilotto, em Curitiba. O projeto atualmente atende todo o público interno do colégio, mas em casos especiais acaba recebendo alunos de outras unidades de Curitiba. A escola possui alunos do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio.
Na sala, os alunos desenvolvem vários projetos que tentam se adaptar às necessidades e às curiosidades de conhecimento que os alunos possuem. Um deles, por exemplo, é uma oficina de robótica, que funciona em parceria com a Universidade Federal Tecnológica do Paraná (UTFPR). Nela, três alunos do ensino médio tentam montar um pequeno robô para participar de uma competição. A iniciativa é patrocinada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Da mesma forma que aqueles que possuem dificuldades de aprendizagem, os alunos superdotados necessitam de acompanhamento diferenciado. No Instituto de Educação, a sala de recursos funciona no contraturno escolar.
O espaço, segundo Ribas, se adapta às necessidades de cada aluno. O professor pontua que a metodologia usada por ele contempla a superdotação pelas áreas de conhecimento. “Ninguém é bom em tudo. Ao todo, são 11 tipos de inteligência que a gente considera. Alguns são melhores em determinadas áreas, mas deficientes em outras”, diz o professor.

Gabriela Passos é uma das alunas atendidas no Instituto de Educação do Paraná, em Curitiba (Foto: Samuel Nunes/G1)
Gabriela Passos é uma das alunas atendidas no Instituto de Educação do Paraná, em Curitiba (Foto: Samuel Nunes/G1)

Competição de robôs
Gabriela de Abraão Passos, de 15 anos, é uma das alunas que participam do projeto. Ela conta que procurou, por conta própria, há um ano, a sala de altas habilidades porque se interessou na ideia de aprender sobre computação. Antes de aprenderem robótica, os alunos passaram por outra oficina, de programação.
“Eu sempre tive curiosidade. Gosto de descobrir várias coisas e por isso acabei entrando no projeto”, diz Gabriela. A menina diz que sempre sentiu mais facilidade nas matérias de Química, Física e História. “São temas que eu gosto bastante”, conta. Segundo ela, os meses que passou aprendendo a programar já fizeram pensar em seguir a carreira como engenheira de computação.
Da parte da UTFPR, duas alunas do curso de engenharia de computação ministraram aulas ao grupo do Instituto de Educação. Kaya Sumire Abe e Bianca Alberton passaram os últimos meses explicando aos alunos o processo de construção de um robô.
Bianca diz que o grupo não teve o rendimento esperado na oficina e acha difícil que consigam montar o robô a tempo da competição, que deve ocorrer em cerca de um mês. “Acho que um dos motivos foi porque não conseguimos passar como se fazia a programação. Mesmo assim, o pessoal da faculdade de engenharia demora bastante a conseguir. Mas para o próximo ano acredito que eles já consigam montar um”, diz.
Teatro, jogos e outras atividades são usadas para incentivar as áreas de inteligência dos alunos (Foto: Samuel Nunes/G1)
Teatro, jogos e outras atividades são usadas
para incentivar as áreas de inteligência dos alunos
(Foto: Samuel Nunes/G1)

Objetivos do atendimento
O sucesso ou fracasso no concurso de robôs, porém, não é o que move os objetivos da sala de recursos. De acordo com Ribas, o projeto visa ajudar os alunos com altas habilidades a se encontrar e a se relacionar melhor com os colegas. “Muitos deles chegam aqui e dizem ‘esse é um lugar em que vão me entender’”, conta o professor.
Segundo ele, a maior parte desses alunos é incompreendida pelos colegas e até por alguns professores, que os veem como pessoas problemáticas. “Ele [aluno] é incompreendido, porque a gente não tem paciência para ouvir”, diz.
É a situação de Gabriela, por exemplo. A menina diz que os conflitos com professores sempre foram constantes. "Às vezes, não concordo com o que eles dizem ou com a forma como ensinam", lembra.

Mitos dos superdotados
Um dos principais mitos em relação aos alunos superdotados é chamá-los de gênios. “Gênio é aquele que deixou alguma contribuição para a sociedade. Steve Jobs foi um gênio? Isso depende do ponto de vista. Do ponto de vista do design e do modo de se usar computadores, sim”, argumenta Ribas. Para ele, o conceito de “gênio” é relativo e depende do contexto em que se avalia cada caso.
Da mesma forma, os alunos superdotados nem sempre tiram as maiores notas em todas as matérias na escola. “Tem muitos superdotados que tiram zero e reprovam, seja por não gostarem da matéria, seja por pirraça ou até por dificuldade em entender aquele conteúdo”, diz.
Tem muitos superdotados que tiram zero e reprovam."
André Ribas, professor

'Altas habilidades' X 'superdotados'
Embora pareça pequena, existe uma diferença de significados entre os dois termos. Ribas explica que o conceito de aluno superdotado trabalha apenas com dois tipos de inteligência e privilegia a facilidade acadêmica das crianças. Dessa forma, pessoas que têm a possibilidade de se destacar em outras áreas, acabavam sendo excluídas do atendimento especial. "Um jogador de futebol pode um superdotado, mas isso não significa que ele seja bom na escola", pontua.
Segundo ele, o termo "altas habilidades" é o que mais tem aparecido entre as pessoas que estudam o tema atualmente. Esse conceito atua nas várias inteligências que as pessoas podem desenvolver. Assim, conforme o professor, é possível pensar em atividades que possam ampliar as habilidades cognitivas específicas de cada aluno, evitando, inclusive, que saiam da escola.

Outros locais de ensino
A Secretaria de Educação informou que as salas especiais de atendimento aos alunos superdotados estão disponíveis em 28 cidades do Paraná. Ao todo, 54 escolas oferecem o serviço. Denise Matos diz que o objetivo da Secretaria da Educação é expandir o projeto aos poucos, até chegar a outras cidades. "Nosso primeiro passo é formar um grupo de multiplicadores, que possam passar os conhecimentos nessa área a outros professores", diz.
Ela ainda revela ainda que a Secretaria da Educação e o Conselho Brasileiro para a Superdotação estão organizando um congresso internacional sobre o tema, que deve ocorrer em Foz do Iguaçu, em 2014. "A escolha da cidade foi justamente para ampliar a nossa atuação nas cidades da região. Nesses eventos, além de professores, sempre aparecem pais interessados no tema", conta.
Abaixo, você pode conferir a lista de cidades que disponibilizam a atenção especial. Nos núcleos regionais de educação é possível saber quais escolas estão aptas a receber os alunos que apresentam superdotação. De acordo com a Secretaria da Educação, nenhuma escola particular dispõe de atendimento especializado.

Cidades com atendimento especializado no Paraná
 
PinhaisCampo LargoCampo MourãoFazenda Rio Grande
São José dos PinhaisCascavelCorbéliaCuritiba
Francisco BeltrãoGuarapuavaCambaráLondrina
RolândiaMaringáSarandiColorado
Pato BrancoChopinzinhoCoronel VividaItapejara do Oeste
PitangaPonta GrossaToledoUmuarama
IporãUnião da VitóriaJaguariaívaSão José da Boa Vista

Fonte: G1- Atualizado em 18/05/2013 08h00