quinta-feira, 10 de março de 2016

Repletas de necessidades 2

Crianças superdotadas também precisam de atendimento especializado

Saiba como agir com esse público

Cinthia Rodrigues (novaescola@fvc.org.br)

Onde buscar ajuda

O superdotado pode ter qualquer perfil, do mais bagunceiro ao braço direito da professora, passando pelo tímido. O que o torna diferente é a habilidade acima da média em uma área específica do conhecimento. Isso pode ter razões genéticas ou ter sido moldado pelo ambiente em que o aluno vive. Raramente, os superdotados têm múltiplas habilidades. Portanto, uma boa pista para encontrá-los é reparar no desempenho e no interesse muito maiores por um determinado assunto. 

O professor deve desconfiar de estudantes com vocabulário avançado, perfeccionistas, contestadores, sensíveis a temas mais abordados por adultos e que não gostem de rotina. O Ministério da Educação montou um formulário com 24 frases que ajudam a identificar estudantes assim (confira a lista no quadro "Como identificar a superdotação"). Se você reconhece um de seus alunos como possível superdotado, procure o Núcleo de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação na Secretaria de Educação de seu estado. 

Os núcleos têm a obrigação de indicar uma psicopedagoga para avaliar se a criança ou o jovem têm mesmo uma alta habilidade - e encaminhá-lo ao programa oficial de estímulo, com atividades extraclasse e orientações para o professor e a família. Instituições não governamentais também apoiam professores e familiares que procuram ajuda para desenvolver talentos. Alguns exemplos são o Instituto Rogério Sternberg, no Rio de Janeiro, e o Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais da Universidade Federal do Paraná.
Trabalho requer estratégias diversificadas e apoio externo
A professora Lucyana de Araújo Domingues de Andrade tem três superdotadas entre seus 35 alunos da Escola Classe 106 Norte, em Brasília. Beatriz foi identificada com altas habilidades em artes na 1ª série. Laura Helena teve a superdotação em conhecimentos gerais reconhecida quando estava na 2ª. E, este ano, Lucyana percebeu que Daniele tem interesse e capacidade acima da média em todas as disciplinas. Como o Distrito Federal conta com salas de recursos disponíveis na rede pública, as meninas têm acesso duas vezes por semana a atividades de estímulo no contraturno, o que não significa que deem mais sossego à professora. 

"São ótimas alunas e, por isso mesmo, me dão mais trabalho do que os colegas", diz. Segundo ela, Beatriz chama a atenção quando faz atividades artísticas e as outras duas perguntam o tempo todo, lembram de detalhes de conteúdo antigo e são muito rápidas na execução de trabalhos. "Terminam em poucos minutos exercícios que entretêm a turma por duas horas", diz. Para mantê-las instigadas, Lucyana chega a dar quatro atividades a mais. 

Em Matemática, por exemplo, ela usa folhetos de supermercado para trabalhar as quatro operações. Quando as meninas terminam, pede que aprofundem as questões, pensem como ficaria a conta se houvesse uma promoção ou quais produtos um cliente teria de deixar de comprar se tivesse menos dinheiro do que o valor final. Em Português, todos leram a fábula A Cigarra e a Formiga, de La Fontaine. Em seguida, escreveram os possíveis diálogos dos personagens - e as meninas com altas habilidades foram além. "Perguntei se hoje a cigarra poderia ganhar dinheiro cantando. E elas fizeram uma história a mais." 

Lucyana também promove a integração ao pedir que as alunas auxiliem os que têm menor nível de conhecimento. "Às vezes, por explicar com a mesma linguagem infantil, elas conseguem bons resultados ou, pelo menos, percebem que cada um tem uma maneira de aprender", diz. Fora tudo isso, a sala dispõe de um varal de livros, para ser lidos nos intervalos ou quando alguém acaba a atividade antes que os outros. "A maioria pega os exemplares mais ilustrados para folhear. Elas não: leem livros que seriam para crianças mais velhas", conta.

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