sexta-feira, 31 de maio de 2013

FILMES COM PERSONAGENS SUPERDOTADOS

Listas de filmes com personagens superdotados de todos os tipos e gostos :
  




- AMADEUS

- A EXCÊNTRICA FAMÍLIA DE ANTÔNIA

- A PROCURA DA FELICIDADE

- A REDE DE MENTIRAS

- A REDE SOCIAL

- A ORIGEM DA VIDA

- A PROCURA DE BOBBY FISCHER

 - BRILHANTE

- CRIANÇAS PRODÍGIO

- CÓDIGO PARA O INFERNO

- ELA DANÇA EU DANÇO

- ENCONTRANDO FORRESTER

- ESCRITORES DA LIBERDADE

- FOREST GUMP

- GÊNIO INDOMÁVEL

- HACKERS

- LANCES INOCENTES

- MATILDA

- MÃOS TALENTOSAS

- MELHOR É IMPOSSÍVEL

 - MENTES QUE BRILHAM

- MEU MESTRE MINHA VIDA

- O PROFISSIONAL

- O SOLISTA

- O SOM DO CORAÇÃO

- OS HOMENS QUE NÃO AMAVAM MULHERES

- PATCH ADAMS

- PRENDA-ME SE FOR CAPAZ

- RAIN MAN

- SHINE - BRILHANTE

- SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS

- UMA MENTE BRILHANTE

 - WINTER, O GOLFINHO
 

CRIANÇAS SUPERDOTADAS

PADRÕES DE COMPORTAMENTO

Brumbaugh (1977), citado em Novaes (1979), pesquisando na Hunter College Elementary School, também assinalou diversas características que, segundo ele, são comuns às crianças superdotadas e podem contribuir para a sua identificação.

Traços Típicos de Crianças Superdotadas Segundo Brumbaugh (1977)
• Anda e fala mais cedo do que a maioria das crianças da sua idade e sexo.
• Tem interesse comparativamente mais precoce pelas palavras e pela leitura.
• Tem um vocabulário excepcionalmente extenso para sua idade.
• Tem interesse precoce por números.
• Expressa curiosidade a respeito de muitas coisas.
• Tem mais energia e vigor do que as outras crianças de sua idade e sexo.
• Tende a associar-se a crianças mais velhas do que ela.
• Age como líder entre crianças de sua própria idade.
• Tem boa memória.
• Tem capacidade incomum de raciocínio.
• Tem capacidade incomum de planejar e organizar.
• Relaciona informações adquiridas no passado com os novos conhecimentos.
• Demonstra preferência por esforços criadores e pelas atividades inovadoras.
• Concentra-se um uma única atividade durante um período prolongado sem se aborrecer.
• Tem numerosos interesses que a mantêm ocupada.
• Persiste em seus esforços em face das dificuldades inesperadas.
• Cria suas próprias soluções para os problemas e exibe um "senso comum" pouco usual.
• Tem senso de humor avançado para a sua idade.
• Exibe sensibilidade em relação aos sentimentos dos outros.
• Interesse por atividades variadas (desenhar, cantar, dançar, escrever, tocar instrumento).

• Constrói estórias bastante vívidas e dramáticas, ou então relatos com muitos detalhes.
Tutle e Becker (1983) deram a sua contribuição ao estudo dos superdotados também listando uma sugestiva série de características típicas que podem ser observadas para fins de identificação.

Traços Típicos dos Indivíduos Superdotados Segundo Tutle e Becker (1983)
• É curioso.
• É persistente no empenho de satisfazer os seus interesses e questões.
• É crítico de si mesmo e dos outros.
• Tem um senso de humor altamente desenvolvido.
• Não é propenso a aceitar afirmações, respostas ou avaliações superficiais.
• Entende com facilidade princípios gerais.
• Tem facilidade em propor muitas ideias para um estímulo específico.
• É sensível a injustiças tanto a nível pessoal quanto social.
• É um líder em várias áreas.
• Vê relações entre ideias aparentemente diversas.

Indivíduos Criativos
Torrance (1976), citado em Novaes (1979), observando sujeitos altamente criativos, observou uma série de traços característicos do seu comportamento que podem ser utilizados como auxílio na identificação do talento criativo.
Traços Comportamentais de Indivíduos Criativos Segundo Torrance (1976)
• Intensa absorção em suas atividades de interesse, seja leitura, observação ou fazer.
• Intensa animação e motivação.
• Uso de analogias ao falar e escrever.
• Envolvimento corporal ao escrever, ler e desenhar.
• Tendência desafiar idéias de autoridades.
• Hábito de testar em muitas fontes.
• Impaciência para relatar descobertas.
• Tendência para olhar as coisas mais de perto.
• Continuidade no trabalho criador depois de ter acabado o tempo.
• Tendência para mostrar relações entre ideias aparentemente não relacionadas.
• Manifestação de curiosidade.
• Jogo imaginativo.
• Honestidade e intensidade ao buscar a verdade.
• Manipulação de objetos e ideias para obter novas combinações.
• Tendência a procurar alternativas e explorar possibilidades.
• Disponibilidade para considerar novas ideias e brincar com elas.

Usando os Indícios Comportamentais
Os vários indícios comportamentais apresentados pelos diversos autores representam uma compilação dos traços que emergem com maior frequência dentro de grupos de superdotados. Dessa forma, as listas acima não representam fatores presentes em absolutamente todos os indivíduos excepcionalmente bem-dotados, mas sim na maioria. Assim, uma boa forma de usá-las seria considerar como possíveis superdotados aqueles que apresentem 50-75% ou mais dos atributos considerados.
Usando os Indícios Comportamentais
Os vários indícios comportamentais apresentados pelos diversos autores representam uma compilação dos traços que emergem com maior freqüência dentro de grupos de superdotados.

Dessa forma, as listas acima não representam fatores presentes em absolutamente todos os indivíduos excepcionalmente bem-dotados, mas sim na maioria. Assim, uma boa forma de usá-las seria considerar como possíveis superdotados aqueles que apresentem 50-75% ou mais dos atributos considerados.

DEFINIÇÕES DE ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO



Por Jéssica Fernanda
As altas habilidades são caracterizadas como uma potencialidade intelectual elevada com domínios multidimensionais, que se concretizam durante o desenvolvimento dos sujeitos diferenciando-o intelectualmente dos demais (SASTRE, 2008; SASTRE, 2011; ANTUNES, 2008; PINTO & FLEITH, 2004)

O indivíduo superdotado caracteriza-se pelo desempenho superior a de seus pares em uma ou mais das seguintes áreas: acadêmica, motora ou artística, criatividade e liderança (CUPERTINO, 2008).

A definição de superdotação que consta nas diretrizes gerais para o atendimento educacional dos alunos superdotados e talentosos (Ministério da educação, 2005) e que é adotado por alguns programas brasileiros, considera crianças superdotadas e talentosas as que apresentam notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual superior, aptidão acadêmica específica; pensamento criador ou produtivo; capacidade de liderança, talento especial para artes visuais, artes dramáticas e música e capacidade psicomotora.

Os estudos acerca das altas habilidades e superdotação adotam concepções diferenciadas. Inicialmente estavam relacionados à inteligência, campo estritamente genético (Passos & Barbosa, 2011). Os primeiros estudos investigando a inteligência tiveram início com Galton, em 1969, quando publicou “A hereditariedade do gênio”, demonstrando que as habilidades do homem são herdadas assim como os traços físicos (Simonetti, 2008 apud Passos & Barbosa, 2001).

Kaufman e Stenberg (2008) propõem que a caracterização de um indivíduo com altas habilidades deve ser baseada num conjunto de critérios. Estes autores abordam a existência de diversas concepções ao longo do tempo, as quais os mesmos dividem em: modelos de domínio geral; modelos de domínio específico; modelos sistêmicos; e modelos desenvolvimentais.

Stenberg (1993) desenvolveu a Teoria Pentagonal da Superdotação. Nesta, define cinco critérios a considerar na definição de uma pessoa superdotada, ou seja, a excelência (superioridade numa dimensão, ou em várias dimensões, em relação aos colegas), a raridade (presença de um atributo excelente não frequente), a produtividade (demonstrar potencial produtivo ou real), a demonstrabilidade (a superioridade deve ser demonstrada através de provas fiáveis) e a valoração (o rendimento superior deve acontecer num domínio valorizado individual e socialmente (ANTUNES, 2008; SASTRE 2011).

O modelo teórico de Renzulli (ANTUNES, 2008) define a superdotação como: superdotação escolar, relacionada com os resultados encontrados nos testes de QI e de aptidões ou relacionada com a aprendizagem escolar; e a superdotação criativo-produtiva. Neste modelo a superdotação é definida em função de três domínios, são estes: habilidade acima da média; motivação e criatividade, dando origem ao que se chama de “teoria dos três anéis”.

Conforme um estudo realizado por Sastre (2008) os indivíduos superdotados apresentam características peculiares, estes são considerados um produto da contínua interação entre fatores neurobiológicos, motivacionais e ambientais

Há também uma diferenciação entre indivíduos superdotados, talentosos e gênios (SASTRE,2008; ANTUNES, 2008; SASTRE 2012) onde superdotados demonstram perfil global de inteligência com percentis maiores que 75; talentosos apresentam habilidades intelectuais podendo ser simples (ex.: criatividade), ou múltiplas (habilidades lógicas criativas e verbais) com percentis maiores que 90; e sujeitos considerados gênios, sempre tendo uma capacidade intelectual elevada aliada a uma alta produtividade.

Acerca do funcionamento cognitivo dos sujeitos com altas habilidades, pode-se caracterizar as seguintes capacidades intelectuais: maior capacidade de resolução de problemas complexos; uso de estratégias mais completas e adequadas a determinadas tarefas e situações; compreensão global de problemas; maior dedicação ao planejamento na resolução de problemas discrimando informações relevantes e irrelevantes; maior facilidade em visualizar novas estratégias (SASTRE, 2008 p. 06).

Observa-se dentre os estudos sobre altas habilidades uma vasta conceituação do tema, abordada por diferentes abordagens e diferentes pontos de vista. Dentre as abordagens mais atuais encontram-se estudos relacionando as altas habilidades não só a fatores genéticos, mas também a fatores neurobiológicos, os quais se potencializariam com os estímulos ambientais.

Conforme estudos de Mrazik & Dombrowski (2010) há uma tendência no envolvimento do hemisfério direito nos aspectos cognitivos dos indivíduos superdotados. Ainda conforme os autores supracitados crianças superdotadas e com habilidades matemáticas e musicais apresentam uma bilateralidade hemisférica e também uma simetria nos usos das funções cognitivas (participação dos 2 hemisférios nos processos cognitivos).

O Hemisfério direito parece estar categoricamente mais envolvido em processos que em indivíduos com inteligência normal são atribuídos ao hemisfério esquerdo. Em um estudo realizado com estudantes com altas habilidades coreanos, comparando os padrões eletroencefalográficos com jovens estudantes com inteligência normal, mostraram que o hemisfério direito é dominante na alocação de funções corticais em indivíduos superdotados.

Estes estudos apontam uma consistência em pesquisas que relacionam uma assimetria frontal, maior atividade do córtex direito em sujeitos superdotados, sendo assim este podendo se caracterizar como um marcador fisiológico da superdotação.

Um estudo realizado por O’Boyle (2005) nos EUA, submeteu indivíduos normais e superdotados a FMRI (Functional magnetic resonance imaging – ressonância magnética) para analisar os padrões de ativações cerebrais destes sujeitos. Esta pesquisa revelou uma ativação de regiões como o córtex pré-frontal; cingulado anterior e regiões parietais posteriores, as quais encontram-se relacionadas com atividades que demandam maior carga de raciocínio. No entanto este estudo revelou que indivíduos superdotados não têm uma estrutura cerebral diferenciada, mas sim interconexões cerebrais mais fortes do que indivíduos com padrões de inteligência normal, corroborando assim com estudos que sustentam a teoria de que superdotados tem “esquemas” cerebrais mais sofisticados que se tornam ativos em tarefas cognitivas de alto nível.

Um estudo realizado por Klingberg (2002), comparando a ativação cerebral de sujeitos superdotados, utilizando como critério a faixa etária, submeteu crianças de 9 anos e adolescentes mais velhos ao FMRI, os resultado apontaram uma maior ativação de regiões parietais, porém com o aumento da idade vai ocorrendo um menor envolvimento das funções do córtex pré frontal nos aspectos cognitivos destes indivíduos.

Um atributo exclusivo dos indivíduos com altas habilidades é a criatividade, estes sujeitos conseguem olhar para determinadas situações por perspectivas diferentes, autores como Carson et al. (2003) relacionam esta capacidade a um rebaixamento das funções inibitórias. O córtex pré frontal é responsável pelo controle inibitório, função esta que encontra-se visivelmente diminuída em indivíduos superdotados, o que os faz ficarem livres das restrições típicas do raciocínio.

De certo modo esta capacidade singular dos indivíduos com altas habilidades pode estar relacionada com a habilidade que os mesmos apresentam em perseverar em suas tarefas e melhorar a sua performance em tal atividade, o que relaciona-se com o menor envolvimento do córtex pré-frontal e um maior envolvimento de áreas parietais (Mrazik & Dombrowski, 2010).
HIPÓTESE PRÉ-NATAL PROPOSTA POR MARTIN MRAZIK & STEFAN C. DOMBROWSKI (2010)
Estes autores propõem que uma interrupção microscópica dos processos cerebrais durante o desenvolvimento fetal: como proliferação neuronal; migração; mielinização e apoptose, possa estar intimamente relacionada com os aspectos da superdotação.

Considerando uma proliferação neuronal reforçada em certas partes do córtex; Apoptose (poda neuronal) não ocorrer em determinadas partes do cérebro; ou uma migração desordenada de neurônios que deveriam ir para áreas de linguagem irem para áreas parietais, por exemplo, que encontram-se relacionadas com habilidades matemáticas, raciocínio visuo-espacial e musical, explicariam a atividade aumentada nos lobos parietais de indivíduos com altas habilidades.

Desta forma, este redirecionamento da migração neuronal pode ser a explicação para os problemas de linguagem frequentemente encontrados em indivíduos com altas habilidades, como dislexia por exemplo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
  1. Alexander, J. E., O'Boyle, M. W. and Benbow, C. P. 1996. Developmentally advanced EEG alpha power in gifted male and female adolescents. International Journal of Psychophysiology: Official Journal of the International Organization of Psychophysiology, 23(1/ 2): 25–31.
  1.  Carson, S. H., Peterson, J. B. and Higgins, D. M. 2003. Decreased latent inhibition is associated with increased creative achievement in high-functioning individuals. Journal of Personality and Social Psychology, 85: 499–506.
  1. Klingberg, T., Forssberg, H. and Westerberg, H. 2002. Increased brain activity in frontal and parietal cortex underlies the development of visuospatial working memory capacity during childhood. Journal of Cognitive Neuroscience, 14(1): 1–10.
  1. Mrazik M, Dombrowski SC. 2010. The neurological foundations of giftedness. Roeper Review; 32: 224-34
  1. Sastre S.R. 2008. Niños con altas capacidades y su funcionamiento cognitivo diferencial. Rev. Neurología, 46 (supl 1): p. 11 – 16.
  1. Sastre S.R. 2011. Funcionamiento metacognitivo en niños con altas capacidades. Rev. Neurología – neurodesarrolo, 52 (supl 1) p. 11-18.
  1. Sastre S.R. 2012. Alta capacidad intelectual: perfeccionismo y regulación
            Metacognitiva. Rev. Neurología - Neurodesarrollo y dificultades del aprendizaje, 54        (supl 1) p. 21-29.
  1. PINTO R.R.M.; FLEITH D.S. 2004. Avaliação das práticas educacionais de um programa de atendimento a alunos superdotados e talentosos. Rev. Psicologia escolar e educacional. Vol 8, num. 1; p. 55-66.
  1. ANTUNES A.M.P. 2008. O apoio psico-educativo a alunos com altas habilidades: Um programa de enriquecimento numa escola inclusiva. Tese de doutorado. Disponível em: < http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/8817/1/Tese%20de%20Ana%20Maria%20Pereira%20Antunes.pdf>. Acesso em: 05 Mar. 2012.
  1.  Kaufman, S. B. & Sternberg, R. J. (2008). Conceptions of giftedness. Em S. I. Pfeiffer (Ed.). Handbook of giftedness in children (pp. 71-91). Tallahassee, FL: Springer.
  1.  Sternberg, R. J.1993. Procedures for identifying intellectual potential in the gifted: A perspective on alternative “Metaphors of Mind”. In K. Heller, F. Mönks, & A. H. Passow (Eds.), International handbook of research and development of giftedness and talent (pp. 185-208). Oxford: Pergamon Press.
  1.  PASSOS C.S.; BARBOSA A.J.G. 2011. Características de superdotação em um par de gêmeos monozigóticos. Rev. Psico-USF, vol.16, num. 03. Set/dez, p. 317-326.
  1.  Um olhar para as altas habilidades: construindo caminhos. Secretaria da Educação, CENP/CAPE; organização, Christina Menna Barreto Cupertino. – São Paulo : FDE, 2008.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

ACELERAÇÃO DE SÉRIE DE ALUNOS SUPERDOTADOS É DIFÍCIL PARA AS ESCOLAS

Postado por Selma Carvalho


Achei importante destacar a dificuldade que os educadores escolares tem para fazerem a "Aceleração de Série" dos Alunos Portadores de Altas Habilidades/Superdotação, mesmo que esteja amparada por Lei como medida de atendimento à esses educandos. 

Acelerar estudos de superdotados ainda é raro e difícil para escolas

Legislação permite, mas não esclarece em que casos a aceleração de estudos é recomendada. Sem orientação, professores e gestores evitam medida que pode ser essencial a alguns alunos

Priscilla Borges - iG Brasília 

Para Thiago Amorim, 15 anos, estudar e aprender foram tarefas quase naturais, de tão simples. Sabia todas as letras do alfabeto com um ano e sete meses. A constatação feita por uma tia, que trabalhava com ensino especial, o fez participar de um programa da Secretaria de Educação do Distrito Federal para superdotados . O acompanhamento ensinava aos pais como lidar com uma criança tão precoce e estimulava o então bebê na dose certa.


Aos três anos, a leitura fluente, sem nenhum tropeço, espantava a mãe, a professora Vânia Amorim Nogueira. Quando chegou o momento de matriculá-lo em uma escola, Vânia, que é da rede pública, tentou vagas em um colégio público para o seu filho. Inúmeros laudos de psicólogos e educadores que acompanhavam Thiago orientavam o futuro colégio a matriculá-lo em uma série de alfabetização, mesmo com cinco anos.
Em todas as tentativas, Vânia ouviu “não” como resposta. Para gestores, diretores e coordenadores, acelerar os estudos de uma criança tão pequena era quase um tabu. “Há resistência. Mesmo com os laudos, os diretores ficaram inseguros, achavam que estavam fazendo algo errado. Talvez até por desconhecimento”, reflete Vânia, que acabou matriculando Thiago em uma escola particular.
Thiago Amorim, 15 anos, começou a ler com três anos e, aos cinco, já estava alfabetizado: "pude me desenvolver mais" 
O colégio da rede privada entendeu o que muitos especialistas defendem: crianças com altas habilidades, em muitas situações, precisam se adequar à série não apenas pela idade. Alguns conflitos precisam ser considerados antes da decisão. O primeiro é o conhecimento do estudante, em geral muito superior ao dos colegas. O segundo é a maturidade da criança, que também pode não acompanhar a da turma.
Todos os aspectos que envolvem a rotina da criança e seu ambiente escolar devem ser avaliados por profissionais especializados. Estudantes com altas habilidades, avançados na trajetória escolar ou não, devem ser acompanhados por essa equipe, especialmente quem deu um salto entre as séries. Mas, de fato, a prática é pouco realizada. Ainda há desconhecimento sobre os benefícios dessa alternativa para os alunos e a legislação que apoia a prática é falha.
Essas constatações estão em uma tese de doutorado defendida este ano na Universidade de Brasília (UnB). Apesar de comuns fora do Brasil, os estudos sobre o efeito da aceleração na vida de crianças superdotadas são raros no País. A pesquisa da pedagoga Renata Rodrigues Maia-Pinto, intitulada “Aceleração de ensino na educação infantil: percepção de alunos superdotados, mães e professores”, analisa resultados pela primeira vez no Brasil, ela conta.
O estudo mostra que, a despeito da falta de informações sobre como crianças que avançaram alguma série ao longo da vida se saíram em suas trajetórias escolares, as experiências investigadas pela pedagoga foram positivas. No estudo, Renata entrevistou professores, pais, mães e 12 crianças que, ainda na educação infantil, receberam recomendações para avançarem alguma série e participavam do programa para superdotados do DF.
“A aceleração foi uma intervenção educacional bem sucedida para os alunos e não trouxe perdas acadêmicas ou dificuldades socioemocionais a eles. Mas ela enfrenta resistência porque não há informação sobre resultados, os professores não conhecem os procedimentos de avanço de série”, critica a pesquisadora.

Cássio acelerou os estudos na 4ª série do ensino fundamental e concluiu o ensino médio com 16 anos. Para ele, período foi de muito aprendizado
Renata ressalta que a prática é recomendada aos superdotados que se deparam com um ambiente pouco desafiador. Para Thiago, por exemplo, desenhar, pintar e aprender as letras do alfabeto quando ele já lia tudo sozinho eram tarefas entediantes. “A escola atendeu a uma necessidade dele, o adaptou melhor aos conhecimentos que ele tinha. Mas toda a família recebeu acompanhamento, para que ele pudesse amadurecer também”, conta Vânia.
Na opinião da pesquisadora, que agora é doutora em Processos e Desenvolvimento Humano e Educação pelo Instituto de Psicologia da UnB, é preciso regulamentar a aceleração de estudos. “A legislação educacional brasileira ampara o superdotado, mas traz barreiras à aceleração no primeiro ano do ensino fundamental, não define formas ou critérios para adoção dessa prática, tampouco prevê outras modalidades de aceleração”, diz.
No ensino superior: Alunos pulam a faculdade e vão direto ao mestrado

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação, em seu artigo 24, prevê a possibilidade de aceleração de estudos, mas reforça a possibilidade no contexto dos alunos “com atraso escolar”. Exige o bom desempenho acadêmico para o avanço, mas não detalha regras. Em pareceres e resoluções, o Conselho Nacional de Educação tratou do tema, sempre destacando que a medida deve “promover o desenvolvimento da aprendizagem e não aligeirar o seu percurso”.
Renata acredita que os sistemas de ensino precisam pressionar por normas mais claras. “Essas crianças precisam de apoio, de um ambiente educacional que estimule seu potencial. E as escolas precisam entender que há mais chances de uma criança superdotada achar pares entre crianças com o mesmo nível de conhecimento que ela. Problemas emocionais podem acontecer independentemente da aceleração”, ressalta.
A prática

No horário contrário das aulas, Thiago desenvolveu projetos com os companheiros de programa para superdotados. As atividades exploram a curiosidade das crianças, as ajudam a desenvolver ainda mais suas habilidades e são oportunidades para que eles convivam com “seus pares”. “Aqui, eles têm a noção de pertencimento a um grupo, que é importante”, comenta Samuel de Oliveira José, professor de Altas Habilidades do DF.
Thiago brinca que, ainda na alfabetização, percebia que não era da mesma altura dos colegas. Mas só descobriu que havia sido acelerado quando estava na 5ª série do ensino fundamental. “Foi bom porque pude desenvolver mais meus interesses. O lado mais difícil é o relacionamento com os colegas e agora acho que vou sair da escola muito cedo”, afirma sorrindo. Thiago vai terminar o ensino médio com 16 anos mal completados.
Cássio Eduardo Silveira Xavier, de 16 anos, vive situação semelhante. Ele, no entanto, avançou nos estudos mais tarde. Sua mãe demorou mais tempo a conseguir mostrar aos professores que o jovem vivia um descompasso. Cássio foi acelerado quando estava na 4ª série do ensino fundamental. O professor Samuel conta que o estudante foi sempre “um fenômeno”. Antes mesmo de terminar o ensino médio, foi aprovado no vestibular da UnB (no 2º ano).
Acompanhado na sala de altas habilidades, Cássio desenvolveu projetos acadêmicos e artísticos. Hoje, toca violão, teclado e baixo. Aprendeu tudo sozinho. “Foi importante a aceleração e o acompanhamento. Isso modificou minha vida, aprendi muito”, diz.
O secretário de Educação Básica, César Callegari, destaca que as regras da LDB e as normas do CNE estabelecem a possibilidade de “reclassificação de alunos por vários motivos”. “Mas esse é um atributo da autonomia das escolas, que precisa ser feito mediante rigorosa avaliação”, diz. Ele lembra que não apenas o desenvolvimento acadêmico deve ser considerado nessa decisão, mas também possíveis ganhos sociais e emocionais da criança.
Renata reconhece que o desafio não é simples. Em sua tese, ela define: “é uma medida complexa a ser adotada pela escola e pela família. A ausência de regulamentação legal sobre procedimentos de aceleração transfere para a escola a responsabilidade de decidir em que condições a criança poderá ou não ser promovida e qual tipo de acompanhamento será necessário”, critica.
Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/2012-12-13/acelerar-estudos-de-superdotados-ainda-e-raro-e-dificil-para-escolas.html

TEORIAS DA SUPERDOTAÇÃO: Afinal, o que os Superdotados tem de Diferente?

Texto de Selma Carvalho




Estudos Científicos que eu desconhecia sobre crianças portadoras de altas habilidades estão neste Texto com o título "Coisas de Gênios- Psicologia Infantil", onde decide dar um outro título, por despertar sobre várias teorias de psicólogos e especialistas na área de " talento, inteligência e superdotação".
Associação de idéias é imediata: a criança capaz de enfrentar complicados problemas matemáticos tem algo de diferente - é um ser superdotado. Mas o que será que os superdotados têm de diferente? A resposta definitiva ainda não foi encontrada, mas os cientistas trabalham com uma suspeita: qualquer pessoa pode ser genial.


Diante dos olhares de espanto da imperatriz Maria Teresa, da Áustria, aos 6 anos de idade Wolfgang Amadeus Mozart fazia brotar do piano os acordes inspirados de suas primeiras sonatas. Três anos mais tarde, tomado por uma irremediável aversão ao estudo convencional, decidiu que dali em diante só leria partituras. Ninguém pode lamentar ter perdido em Mozart um químico apenas medíocre ou um escriturário esforçado. Pior seria se a humanidade tivesse inibido a floração de um dos seus mais talentosos compositores - o que poderia perfeitamente bem acontecer se Mozart não vivesse na Salzburgo do século XVIII, uma cidade voltada para as artes. Hoje em dia Mozart talvez já tivesse sido induzido pela família ou pelos professores a esquecer o fascínio pela  música em troca de um dez no boletim. Lamentável, pois Mozart é um exemplo de pessoa superdotada.

O conceito de superdotado, até há pouco tempo, servia de legenda para a imagem caricatural do garoto franzino, craque não no futebol e sim em complicadas questões de Química, Matemática ou Física, entre outros saberes que costumam driblar a meninada dita normal. Hoje se sabe que nem todo superdotado tem o perfil de primeiro da classe. Além das pessoas com  inteligência acima da média, superdotados também são aqueles com capacidade excepcional para realizar tarefas, muitas vezes à distância de salas de aula e laboratórios. É certo que em algumas pessoas existe algo diferente que as faz geniais.

Sem dúvida, os fatores culturais impõem seus limites à genialidade. Ao esboçar um helicóptero em pleno século XV, quando o homem nem sequer podia imaginar o automóvel, o florentino Leonardo da Vinci só poderia ser tachado de visionário. Da mesma forma, se Isaac Newton tivesse nascido numa tribo da Nova Guiné, e não na Inglaterra do século XVII, não teria chegado a formular a lei da gravitação, porque para os guinéus, ser inteligente é saber de cor e salteado o nome de 10 mil clãs. Entre os limites erguidos pelos valores culturais, porém, nascem três superdotados em cada cem pessoas, independentemente de raça, sexo ou classe social, segundo as estatísticas.

Isso significa que, dos cerca de 4 milhões de brasileiros que devem nascer este ano, 120 mil merecem estar nessa categoria - o equivalente à população inteira de uma cidade como Teresópolis, no Estado do Rio. Significa também que o Brasil, com seus mais de 140 milhões de cidadãos, teria uma formidável legião de 4 milhões de gênios em potencial, como se toda a população de Santa Catarina, por exemplo, fosse constituída de superdotados. Não é preciso que alguém os ensine a ser brilhantes. Em geral, eles desenvolvem espontaneamente o seu talento - daí fenômenos como os de crianças que até aprendem a ler sozinhas ou que desmontam e montam o rádio do pai sem causar danos.

"A. habilidade do superdotado costuma aparecer cedo. Mas isso não significa que não possa haver um superdotado adulto perdido na multidão", esclarece o psicólogo paulista Oswaldo Barros Santos, que há dez anos observa o comportamento dessa gente tão especial, na condição de um dos fundadores da Associação Brasileira para Superdotados, com sede no Rio de Janeiro.

Oswaldo aponta como característica marcante no superdotado o amor intrínseco pelo trabalho. "Eles costumam fazer as coisas para si e muitas vezes nem divulgam o que criam ou descobrem, dispensando a platéia."

Essa atitude, em certas ocasiões, é interpretada com timidez. Contudo, dificilmente a timidez impede o superdotado de chamar a atenção. Isso porque, embora possa desenvolver bem mais certas habilidades do que outras, o superdotado não costuma ser muito ruim em nada. Seu desempenho, em geral, é sempre superior ao da média das pessoas.

O psicólogo nega que tamanho talento lhes cause problemas. "A não ser na infância", admite Oswaldo, "pois o superdotado amadurece mais cedo." É o caso da menina que, com 8 anos de idade, quer ir a uma festa à noite com uma garota de 12. Os pais podem proibi-la; as crianças mais velhas podem rejeitar sua companhia. Surgem, então, conflitos superados na vida adulta, quando ela terá liberdade para fazer o que quiser. Se os pesquisadores do comportamento, como os psicólogos, podem comparar certo número de casos de superdotação e daí tirar conclusões, o mesmo não acontece com os médicos.

"O interesse pelo assunto é recente e ainda não existem amplos estudos do cérebro de superdotados que permitam o entendimento dessa condição", justifica o neurologista infantil Saul Cypel, da Universidade de São Paulo. Cauteloso como seus colegas diante do fenômeno, Cypel não encontra explicações na Medicina para o fato de os superdotados amadurecerem mais cedo, muito menos para a simples existência de pessoas excepcionalmente talentosas. Só há hipóteses e mesmo assim ainda à espera de comprovação no exame de cérebros.

Quando morreu Albert Einstein - um gênio acima de qualquer suspeita -, seu crânio foi aberto em busca de indícios físicos para sua genialidade. Mas o estudo do cérebro einsteiniano não levou a nada - talvez por falta de comparações. Uma hipótese, em todo caso, é a de que as células cerebrais no superdotado têm um número maior de conexões entre si do que numa pessoa comum. "Teoricamente, quanto mais conexões nessas células, melhores os recursos intelectuais de alguém", explica Cypel. Ampliadas pelo microscópio, essas conexões formadas no decorrer da vida parecem finas ramificações das células nervosas. É como se cada célula ou grupo de células guardasse certa quantidade de informações e essas conexões permitissem toda sorte de associação entre elas.

"Mais conexões ajudam a buscar na memória pistas para criar soluções adequadas a qualquer problema", suspeita Cypel. Segundo ele, também é possível que os neurotransmissores - substâncias responsáveis pelos estímulos nervosos - funcionem de maneira peculiar nos superdotados.

Outros cientistas desconfiam que a superdotação possa ser causada por pequenas lesões ocorridas antes ainda do nascimento. A estranha idéia surgiu da observação dos idiots savants (idiotas sábios), pessoas retardadas devido a lesões cerebrais e, não obstante, capazes de exercer alguma atividade extremamente bem. Assim, os médicos citam casos de retardados capazes de realizar de cabeça complexos cálculos matemáticos. A superdotação não teria a mesma origem? "É apenas uma teoria", acautela Cypel.

Para a bióloga gaúcha Eni Peinado Viñolo, da Universidade Católica de Porto Alegre, qualquer explicação isolada para o fenômeno é incompleta. "Todo o organismo do superdotado parece funcionar de forma mais harmônica do que na maioria das pessoas", frisa ela. Uma das razões estaria nos hormônios, produzidos em doses ideais no superdotado. Como os hormônios mexem com as emoções, o superdotado nem é muito lento para decidir, nem explode de impaciência. "Também demora mais para alcançar o estado de estresse, o que o deixa mais apto ao estudo ou ao trabalho", diz Eni. Hormônios bem sintonizados não fabricam superdotados, mas seriam parte da resposta para o enigma. 

A bióloga aponta ainda um fator, insuspeitado para os leigos, que após anos de estudo ela considera "importantíssimo": a capacidade do organismo de absorver proteínas, substâncias essenciais para o sistema nervoso. Essa característica, transmitida geneticamente, faz com que certas pessoas consigam assimilar mais nutrientes até do que outras, beneficiadas por uma quantidade maior de alimento. "Isso ajuda a explicar por que a mesma proporção de superdotados aparece nas pessoas, seja qual for a sua condição social e econômica", nota Eni.

Tampouco há sinais de grandes diferenças entre homens e mulheres nesse terreno. Mas testes realizados por psicólogos americanos na década de 70 produziram um curioso resultado: em Matemática, os homens superdotados são, inexplicavelmente, melhores do que as mulheres superdotadas - e nas outras áreas testadas os resultados se equivalem. De acordo com outro estudo, entre crianças superdotadas a incidência de miopia é quatro vezes maior do que nas demais crianças da mesma idade. Em compensação, as crianças superdotadas tendem a ser mais altas e mais robustas. Além disso, uma terceira pesquisa indica que em cada três canhotos, dois são superdotados.

Mas não se tem a menor idéia da relação - se é que existe - entre genialidade, de um lado, e miopia ou robustez, ou ainda canhotismo, de outro. Por enquanto, os cientistas estão mais preocupados em verificar o papel da genética na superdotação. A crença de que filho de gênio é gênio difundiu-se muito, embora a ciência não assine embaixo. Nos Estados Unidos, por exemplo, centenas de mulheres se candidataram a uma doação de um certo Instituto de Seleção Germinal, fundado por um magnata americano em 1980, com o expresso objetivo de "aperfeiçoar a espécie humana".

Seria, talvez, mais um banco de esperma, não tivesse entre os seus doadores prêmios Nobel como o físico William Shockley, que na década de 50 inventou o transístor. No entanto, para a decepção das candidatas as mães de superdotados (mulheres geralmente casadas com homens estéreis) filhos de pais ilustres, até hoje não nasceu nenhum gênio. Outra linha de pesquisa sustenta que qualquer um pode ser gênio, independentemente da bagagem genética desde que seja estimulado nos primeiros anos de vida. Pesquisadores soviéticos acreditam que o terceiro ano de vida é o limite máximo para se aumentar a capacidade intelectual de alguém.

Por isso, os pais são exortados a proporcionar aos bebês todo tipo de estímulo sensorial: jogos de luzes, audição de ruídos diversos, massagens, além de muita ginástica, porque o desenvolvimento do sistema nervoso acompanharia o desenvolvimento físico geral. Nos Estados Unidos, métodos muito parecidos estão sendo usados, e o treinamento pode começar na barriga da mãe. Através de aparelhos ligados ao ventre da gestante, o feto ouviria de sinfonias a concertos de rock, além das vozes dos pais. Os adeptos dessa prática asseguram que os bebês, após esse aprendizado intra-uterino, nascem mais fortes e desenvolvem reflexos precocemente.

Na pior das hipóteses, mal não há de fazer. O psicólogo americano Glenn Doman, citado até no filme Presente de grego, estrelado pela atriz Diane Keaton, é um dos pioneiros na educação de superbebês. No seu instituto, em Filadélfia, Doman alega que consegue ensinar crianças de 3 anos a ler, falar uma língua estrangeira e ainda dominar as quatro operações com números de até dois algarismos. Essas proezas costumam ser divulgadas com boa dose de sensacionalismo, mas as explicações são relativamente simples. Uma criança tem facilidade natural para aprender mais de um idioma, como qualquer filho de emigrante sabe. Em relação a saber ler e calcular, Doman admite que seus superpacientes não entendem nada do que fazem, apenas decoram o que lhes é mostrado em desenhos e fotos. Esse tipo de treinamento é visto com extrema reserva pela maioria dos pedagogos. Eles acham que decorar coisas demais nos primeiros anos de vida pode até inibir a criatividade. Mas Doman insiste que a criatividade pode ficar para depois: o importante, segundo ele, é armazenar o máximo de informações num primeiro momento. O cérebro seria programável como a memória de um computador, diz ele.

Outros centros de estudos surgem não propriamente para criar gênios, e sim para desenvolver os superdotados identificados em escolas comuns. Japão, Estados Unidos, Israel e União Soviética são os países que mais investem em centros de estudos especiais para superdotados e têm, juntos, cerca de 2 mil desses centros. Entre os educadores, porém, há uma polêmica. Muitos, como a pedagoga Therezinha Fram, presidente da Associação Brasileira para Superdotados, em São Paulo, acham que "os superdotados não devem ser separados. As escolas comuns é que devem enriquecer seus currículos, prevendo que terão alunos com um nível de exigência maior do que a média".

Propostas nessa direção foram apresentadas no I Encontro de Brasília sobre Superdotados, em novembro último. Após três dias de debates, 180 especialistas entregaram ao Ministério da Educação um documento no qual solicitam que as empresas e as escolas criem projetos para os superdotados aperfeiçoarem seus talentos. Serve de modelo o projeto da Universidade de Campinas, onde, ainda este ano, haverá cursos para crianças com grande habilidade para a Informática. Na reunião de Brasília, também se apontou a necessidade de ensinar as professoras a identificar alunos superdotados. Muitos educadores, por exemplo, parecem achar que estudante com nota baixa não pode ser superdotado em hipótese alguma. Mas nem sempre o boletim é o melhor atestado de superdotação - o contrário pode ser verdade. "É relativamente comum o superdotado ir mal na escola", conta Therezinha. "Por exemplo, alguém com muito talento em Matemática pode se fechar num mundo de cálculos e se esquecer das demais matérias." Outra característica comum é a indisciplina, porque o superdotado aprende em cinco minutos aquilo que seus colegas levam uma hora. "E daí o resto do tempo é consumido em atitudes que muitas vezes irritam o professor mal preparado", comenta a pedagoga. Os famosos testes de Q.I.(quociente de inteligência) também já foram aposentados enquanto instrumentos para avaliar a superdotação. Entre outros motivos, porque em testes desse tipo a rapidez com que as respostas são dadas conta pontos - e o superdotado não é necessariamente o mais rápido, mas aquele que analisa o problema de maneira mais profunda e original.

Além disso, os cientistas sabem que a inteligência não é um atributo que se define exclusivamente como uma rua de mão única. Observando os superdotados, eles descobriram que existem pessoas com um incrível poder de síntese e que são apenas medíocres na capacidade de analisar um problema; outras são criativas, mas não usam a lógica. Enfim, como diria Einstein, ser inteligente é muito relativo. Na maneira convencional de ver as coisas, só é gênio quem sabe usar a cabeça de modo excepcional. Na verdade, qualquer aptidão humana exercida com soberba mestria é coisa de superdotado. Como a música de Mozart. Ou o futebol de Pelé. .

As melhores notas

Eram oitenta vagas para candidatos do mundo inteiro, despertando o interesse de músicos que sonhavam estudar com o francês Pierre Boulez, um dos maiores regentes e compositores da atualidade. O cartaz sobre o curso - realizado na França em julho passado - chamou a atenção de um violinista curitibano de 17 anos, que começou a compor com apenas 7. Rodolfo Richter mandou uma fita a Boulez e este, depois de ouvi-la, garantiu-lhe a vaga no curso, na certeza de que o jovem é um dos grandes talentos artísticos atuais.

"Nem sei por que me envolvi tão cedo com a música", diz Rodolfo, que por sinal também tem dois irmãos músicos e fica sem jeito ao ouvir a palavra superdotado.

O último ano do curso colegial ele "vai tocando", enquanto lamenta não ter oito horas (mas apenas cinco) para o violino. A vontade de se aperfeiçoar o leva a viajar duas vezes por mês a São Paulo para tomar aulas. Este ano pretende conseguir uma bolsa para o exterior - o que, a julgar pela opinião de Boulez, não lhe será difícil.

Os gostos de um autor

Como a grande maioria dos garotos de sua idade, Leandro de Campos Gomes, 14 anos, não sabe direito o que vai fazer quando crescer: "Pode ser Astrofísica ou Engenharia", responde despreocupadamente. Mas, como raríssimos de sua idade, ele tem sérios projetos para este ano: terminar dois livros, um de contos e outro, técnico, sobre programação de computadores. Leandro bem pode ser chamado de superdotado. Sua estréia como autor foi há um ano, quando publicou uma breve história do computador, após ler mais de duzentos textos sobre o assunto.

O micro e as prateleiras cheias disputam o espaço de seu pequeno quarto, numa casa de classe média em Campinas, no interior paulista. É ali que Leandro, filho de pai jornalista e mãe dona de casa, passa horas entregue à sua diversão predileta: os livros de ficção científica de lsaac Asimov. "O garoto entende de computador como poucos e ainda consegue transmitir suas idéias como quem está habituado à literatura, define Jaime Pinsky, editor de Leandro. Menino de poucas palavras, ele parece não se entusiasmar com elogios desse tipo: "Se tenho mais facilidade com algumas coisas, isso não me torna diferente dos meus amigos.

Inteligências em jogo

O único brasileiro a ser finalista em um campeonato mundial de xadrez é um gaúcho de 8 anos. Giovani Portilho Vescovi, menino com ar de adolescente, mal havia completado 2 anos quando, de tanto observar o pai, aprendeu sozinho a montar o tabuleiro. Aos 6 começou a treinar o jogo num clube de São Paulo, para onde a família se mudou. No ano seguinte, obteve em Porto Rico a taça de vice-campeão do torneio mundial na categoria infantil. " Foram seis horas de jogo", lembra Giovani com displicência, como se fosse natural alguém de sua idade ficar tanto tempo debruçado sobre um tabuleiro.

Mas Giovani não é o único campeão da família nem o único dos Vescovi a candidatar-se ao título de superdotado: o irmão Giuliano, dois anos mais novo, também treina xadrez diariamente desde os 4 anos, quando estudava os movimentos do jogo pelas ilustrações de um livro, já que então não sabia ler. "É divertido", resume Giuliano com o ar travesso que falta ao irmão. Campeão paulista na categoria dente-de-leite no ano passado, Giuliano quer enfrentar novos adversários por um motivo muito especial: "Ganhar uma taça desse tamanho", diz abrindo os braços. Já Giovani treina para participar, daqui a dois meses, no Open Americano de Nova York. O treino só é interrompido na hora de brincar. Mas brincar, para ele, muitas vezes significa resolver problemas de livros de Matemática da sexta série - um verdadeiro desafio, para quem ainda está na terceira. 

Prêmio ao texto

Avisada à última hora do concurso, a estudante Arlene Corigliano correu contra o relógio para traçar em poucas páginas um paralelo entre a sociedade brasileira atual e a do fim do século passado, como esta aparece no livro O cortiço, de Aluísio Azevedo, que havia lido dois anos antes, aos 15. A professora da Escola Municipal Caetano de Campos, onde Arlene estuda em São Paulo, mandou o texto para a XIII Bienal Internacional do Livro, no ano passado, e aconteceu o que ela previa: a moça ficou com  o primeiro lugar, entre milhares de redações de estudantes paulistas.

"Ela não é talentosa por ter simplesmente vencido um concurso", esclarece a professora Yauko Shiguematsu, "mas sim porque, não importa o tema, seus textos prendem até a última linha." Arlene tem uma característica típica dos superdotados - o talento manifestou-se espontaneamente. Sempre gesticulando, ela não se intimida em revelar que só conheceu o primeiro romance na adolescência, por obrigação escolar. Mesmo assim vinha escrevendo desde menina "uma redação por dia". A diferença é que agora Arlene se habituou a ler, embora nem sempre lhe sobre dinheiro para comprar romances. Por isso, trocou a viagem a que tinha direito, graças ao primeiro lugar na Bienal, por cinqüenta livros.