sexta-feira, 31 de maio de 2013

DEFINIÇÕES DE ALTAS HABILIDADES E SUPERDOTAÇÃO



Por Jéssica Fernanda
As altas habilidades são caracterizadas como uma potencialidade intelectual elevada com domínios multidimensionais, que se concretizam durante o desenvolvimento dos sujeitos diferenciando-o intelectualmente dos demais (SASTRE, 2008; SASTRE, 2011; ANTUNES, 2008; PINTO & FLEITH, 2004)

O indivíduo superdotado caracteriza-se pelo desempenho superior a de seus pares em uma ou mais das seguintes áreas: acadêmica, motora ou artística, criatividade e liderança (CUPERTINO, 2008).

A definição de superdotação que consta nas diretrizes gerais para o atendimento educacional dos alunos superdotados e talentosos (Ministério da educação, 2005) e que é adotado por alguns programas brasileiros, considera crianças superdotadas e talentosas as que apresentam notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual superior, aptidão acadêmica específica; pensamento criador ou produtivo; capacidade de liderança, talento especial para artes visuais, artes dramáticas e música e capacidade psicomotora.

Os estudos acerca das altas habilidades e superdotação adotam concepções diferenciadas. Inicialmente estavam relacionados à inteligência, campo estritamente genético (Passos & Barbosa, 2011). Os primeiros estudos investigando a inteligência tiveram início com Galton, em 1969, quando publicou “A hereditariedade do gênio”, demonstrando que as habilidades do homem são herdadas assim como os traços físicos (Simonetti, 2008 apud Passos & Barbosa, 2001).

Kaufman e Stenberg (2008) propõem que a caracterização de um indivíduo com altas habilidades deve ser baseada num conjunto de critérios. Estes autores abordam a existência de diversas concepções ao longo do tempo, as quais os mesmos dividem em: modelos de domínio geral; modelos de domínio específico; modelos sistêmicos; e modelos desenvolvimentais.

Stenberg (1993) desenvolveu a Teoria Pentagonal da Superdotação. Nesta, define cinco critérios a considerar na definição de uma pessoa superdotada, ou seja, a excelência (superioridade numa dimensão, ou em várias dimensões, em relação aos colegas), a raridade (presença de um atributo excelente não frequente), a produtividade (demonstrar potencial produtivo ou real), a demonstrabilidade (a superioridade deve ser demonstrada através de provas fiáveis) e a valoração (o rendimento superior deve acontecer num domínio valorizado individual e socialmente (ANTUNES, 2008; SASTRE 2011).

O modelo teórico de Renzulli (ANTUNES, 2008) define a superdotação como: superdotação escolar, relacionada com os resultados encontrados nos testes de QI e de aptidões ou relacionada com a aprendizagem escolar; e a superdotação criativo-produtiva. Neste modelo a superdotação é definida em função de três domínios, são estes: habilidade acima da média; motivação e criatividade, dando origem ao que se chama de “teoria dos três anéis”.

Conforme um estudo realizado por Sastre (2008) os indivíduos superdotados apresentam características peculiares, estes são considerados um produto da contínua interação entre fatores neurobiológicos, motivacionais e ambientais

Há também uma diferenciação entre indivíduos superdotados, talentosos e gênios (SASTRE,2008; ANTUNES, 2008; SASTRE 2012) onde superdotados demonstram perfil global de inteligência com percentis maiores que 75; talentosos apresentam habilidades intelectuais podendo ser simples (ex.: criatividade), ou múltiplas (habilidades lógicas criativas e verbais) com percentis maiores que 90; e sujeitos considerados gênios, sempre tendo uma capacidade intelectual elevada aliada a uma alta produtividade.

Acerca do funcionamento cognitivo dos sujeitos com altas habilidades, pode-se caracterizar as seguintes capacidades intelectuais: maior capacidade de resolução de problemas complexos; uso de estratégias mais completas e adequadas a determinadas tarefas e situações; compreensão global de problemas; maior dedicação ao planejamento na resolução de problemas discrimando informações relevantes e irrelevantes; maior facilidade em visualizar novas estratégias (SASTRE, 2008 p. 06).

Observa-se dentre os estudos sobre altas habilidades uma vasta conceituação do tema, abordada por diferentes abordagens e diferentes pontos de vista. Dentre as abordagens mais atuais encontram-se estudos relacionando as altas habilidades não só a fatores genéticos, mas também a fatores neurobiológicos, os quais se potencializariam com os estímulos ambientais.

Conforme estudos de Mrazik & Dombrowski (2010) há uma tendência no envolvimento do hemisfério direito nos aspectos cognitivos dos indivíduos superdotados. Ainda conforme os autores supracitados crianças superdotadas e com habilidades matemáticas e musicais apresentam uma bilateralidade hemisférica e também uma simetria nos usos das funções cognitivas (participação dos 2 hemisférios nos processos cognitivos).

O Hemisfério direito parece estar categoricamente mais envolvido em processos que em indivíduos com inteligência normal são atribuídos ao hemisfério esquerdo. Em um estudo realizado com estudantes com altas habilidades coreanos, comparando os padrões eletroencefalográficos com jovens estudantes com inteligência normal, mostraram que o hemisfério direito é dominante na alocação de funções corticais em indivíduos superdotados.

Estes estudos apontam uma consistência em pesquisas que relacionam uma assimetria frontal, maior atividade do córtex direito em sujeitos superdotados, sendo assim este podendo se caracterizar como um marcador fisiológico da superdotação.

Um estudo realizado por O’Boyle (2005) nos EUA, submeteu indivíduos normais e superdotados a FMRI (Functional magnetic resonance imaging – ressonância magnética) para analisar os padrões de ativações cerebrais destes sujeitos. Esta pesquisa revelou uma ativação de regiões como o córtex pré-frontal; cingulado anterior e regiões parietais posteriores, as quais encontram-se relacionadas com atividades que demandam maior carga de raciocínio. No entanto este estudo revelou que indivíduos superdotados não têm uma estrutura cerebral diferenciada, mas sim interconexões cerebrais mais fortes do que indivíduos com padrões de inteligência normal, corroborando assim com estudos que sustentam a teoria de que superdotados tem “esquemas” cerebrais mais sofisticados que se tornam ativos em tarefas cognitivas de alto nível.

Um estudo realizado por Klingberg (2002), comparando a ativação cerebral de sujeitos superdotados, utilizando como critério a faixa etária, submeteu crianças de 9 anos e adolescentes mais velhos ao FMRI, os resultado apontaram uma maior ativação de regiões parietais, porém com o aumento da idade vai ocorrendo um menor envolvimento das funções do córtex pré frontal nos aspectos cognitivos destes indivíduos.

Um atributo exclusivo dos indivíduos com altas habilidades é a criatividade, estes sujeitos conseguem olhar para determinadas situações por perspectivas diferentes, autores como Carson et al. (2003) relacionam esta capacidade a um rebaixamento das funções inibitórias. O córtex pré frontal é responsável pelo controle inibitório, função esta que encontra-se visivelmente diminuída em indivíduos superdotados, o que os faz ficarem livres das restrições típicas do raciocínio.

De certo modo esta capacidade singular dos indivíduos com altas habilidades pode estar relacionada com a habilidade que os mesmos apresentam em perseverar em suas tarefas e melhorar a sua performance em tal atividade, o que relaciona-se com o menor envolvimento do córtex pré-frontal e um maior envolvimento de áreas parietais (Mrazik & Dombrowski, 2010).
HIPÓTESE PRÉ-NATAL PROPOSTA POR MARTIN MRAZIK & STEFAN C. DOMBROWSKI (2010)
Estes autores propõem que uma interrupção microscópica dos processos cerebrais durante o desenvolvimento fetal: como proliferação neuronal; migração; mielinização e apoptose, possa estar intimamente relacionada com os aspectos da superdotação.

Considerando uma proliferação neuronal reforçada em certas partes do córtex; Apoptose (poda neuronal) não ocorrer em determinadas partes do cérebro; ou uma migração desordenada de neurônios que deveriam ir para áreas de linguagem irem para áreas parietais, por exemplo, que encontram-se relacionadas com habilidades matemáticas, raciocínio visuo-espacial e musical, explicariam a atividade aumentada nos lobos parietais de indivíduos com altas habilidades.

Desta forma, este redirecionamento da migração neuronal pode ser a explicação para os problemas de linguagem frequentemente encontrados em indivíduos com altas habilidades, como dislexia por exemplo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
  1. Alexander, J. E., O'Boyle, M. W. and Benbow, C. P. 1996. Developmentally advanced EEG alpha power in gifted male and female adolescents. International Journal of Psychophysiology: Official Journal of the International Organization of Psychophysiology, 23(1/ 2): 25–31.
  1.  Carson, S. H., Peterson, J. B. and Higgins, D. M. 2003. Decreased latent inhibition is associated with increased creative achievement in high-functioning individuals. Journal of Personality and Social Psychology, 85: 499–506.
  1. Klingberg, T., Forssberg, H. and Westerberg, H. 2002. Increased brain activity in frontal and parietal cortex underlies the development of visuospatial working memory capacity during childhood. Journal of Cognitive Neuroscience, 14(1): 1–10.
  1. Mrazik M, Dombrowski SC. 2010. The neurological foundations of giftedness. Roeper Review; 32: 224-34
  1. Sastre S.R. 2008. Niños con altas capacidades y su funcionamiento cognitivo diferencial. Rev. Neurología, 46 (supl 1): p. 11 – 16.
  1. Sastre S.R. 2011. Funcionamiento metacognitivo en niños con altas capacidades. Rev. Neurología – neurodesarrolo, 52 (supl 1) p. 11-18.
  1. Sastre S.R. 2012. Alta capacidad intelectual: perfeccionismo y regulación
            Metacognitiva. Rev. Neurología - Neurodesarrollo y dificultades del aprendizaje, 54        (supl 1) p. 21-29.
  1. PINTO R.R.M.; FLEITH D.S. 2004. Avaliação das práticas educacionais de um programa de atendimento a alunos superdotados e talentosos. Rev. Psicologia escolar e educacional. Vol 8, num. 1; p. 55-66.
  1. ANTUNES A.M.P. 2008. O apoio psico-educativo a alunos com altas habilidades: Um programa de enriquecimento numa escola inclusiva. Tese de doutorado. Disponível em: < http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/8817/1/Tese%20de%20Ana%20Maria%20Pereira%20Antunes.pdf>. Acesso em: 05 Mar. 2012.
  1.  Kaufman, S. B. & Sternberg, R. J. (2008). Conceptions of giftedness. Em S. I. Pfeiffer (Ed.). Handbook of giftedness in children (pp. 71-91). Tallahassee, FL: Springer.
  1.  Sternberg, R. J.1993. Procedures for identifying intellectual potential in the gifted: A perspective on alternative “Metaphors of Mind”. In K. Heller, F. Mönks, & A. H. Passow (Eds.), International handbook of research and development of giftedness and talent (pp. 185-208). Oxford: Pergamon Press.
  1.  PASSOS C.S.; BARBOSA A.J.G. 2011. Características de superdotação em um par de gêmeos monozigóticos. Rev. Psico-USF, vol.16, num. 03. Set/dez, p. 317-326.
  1.  Um olhar para as altas habilidades: construindo caminhos. Secretaria da Educação, CENP/CAPE; organização, Christina Menna Barreto Cupertino. – São Paulo : FDE, 2008.

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