Por Jéssica Fernanda
As altas
habilidades são caracterizadas como uma potencialidade intelectual elevada com
domínios multidimensionais, que se concretizam durante o desenvolvimento dos
sujeitos diferenciando-o intelectualmente dos demais (SASTRE, 2008; SASTRE, 2011;
ANTUNES, 2008; PINTO & FLEITH, 2004)
O indivíduo
superdotado caracteriza-se pelo desempenho superior a de seus pares em uma ou
mais das seguintes áreas: acadêmica, motora ou artística, criatividade e
liderança (CUPERTINO, 2008).
A definição de
superdotação que consta nas diretrizes gerais para o atendimento educacional
dos alunos superdotados e talentosos (Ministério da educação, 2005) e que é
adotado por alguns programas brasileiros, considera crianças superdotadas e
talentosas as que apresentam notável desempenho e/ou elevada potencialidade em
qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual
superior, aptidão acadêmica específica; pensamento criador ou produtivo;
capacidade de liderança, talento especial para artes visuais, artes dramáticas
e música e capacidade psicomotora.
Os estudos
acerca das altas habilidades e superdotação adotam concepções diferenciadas.
Inicialmente estavam relacionados à inteligência, campo estritamente genético
(Passos & Barbosa, 2011). Os primeiros estudos investigando a inteligência
tiveram início com Galton, em 1969, quando publicou “A hereditariedade do gênio”, demonstrando que as habilidades do
homem são herdadas assim como os traços físicos (Simonetti, 2008 apud Passos & Barbosa, 2001).
Kaufman e
Stenberg (2008) propõem que a caracterização de um indivíduo com altas
habilidades deve ser baseada num conjunto de critérios. Estes autores abordam a
existência de diversas concepções ao longo do tempo, as quais os mesmos dividem
em: modelos de domínio geral; modelos de domínio específico; modelos
sistêmicos; e modelos desenvolvimentais.
Stenberg (1993)
desenvolveu a Teoria Pentagonal da
Superdotação. Nesta, define cinco critérios a considerar na definição de
uma pessoa superdotada, ou seja, a excelência (superioridade numa dimensão, ou
em várias dimensões, em relação aos colegas), a raridade (presença de um
atributo excelente não frequente), a produtividade (demonstrar potencial
produtivo ou real), a demonstrabilidade (a superioridade deve ser demonstrada
através de provas fiáveis) e a valoração (o rendimento superior deve acontecer
num domínio valorizado individual e socialmente (ANTUNES, 2008; SASTRE 2011).
O modelo teórico
de Renzulli (ANTUNES, 2008) define a superdotação como: superdotação escolar,
relacionada com os resultados encontrados nos testes de QI e de aptidões ou
relacionada com a aprendizagem escolar; e a superdotação criativo-produtiva.
Neste modelo a superdotação é definida em função de três domínios, são estes:
habilidade acima da média; motivação e criatividade, dando origem ao que se
chama de “teoria dos três anéis”.
Conforme um
estudo realizado por Sastre (2008) os indivíduos superdotados apresentam
características peculiares, estes são considerados um produto da contínua
interação entre fatores neurobiológicos, motivacionais e ambientais
Há também uma
diferenciação entre indivíduos superdotados, talentosos e gênios (SASTRE,2008;
ANTUNES, 2008; SASTRE 2012) onde superdotados demonstram perfil global de
inteligência com percentis maiores que 75; talentosos apresentam habilidades
intelectuais podendo ser simples (ex.: criatividade), ou múltiplas (habilidades
lógicas criativas e verbais) com percentis maiores que 90; e sujeitos
considerados gênios, sempre tendo uma capacidade intelectual elevada aliada a
uma alta produtividade.
Acerca do
funcionamento cognitivo dos sujeitos com altas habilidades, pode-se
caracterizar as seguintes capacidades intelectuais: maior capacidade de
resolução de problemas complexos; uso de estratégias mais completas e adequadas
a determinadas tarefas e situações; compreensão global de problemas; maior
dedicação ao planejamento na resolução de problemas discrimando informações
relevantes e irrelevantes; maior facilidade em visualizar novas estratégias
(SASTRE, 2008 p. 06).
Observa-se
dentre os estudos sobre altas habilidades uma vasta conceituação do tema,
abordada por diferentes abordagens e diferentes pontos de vista. Dentre as
abordagens mais atuais encontram-se estudos relacionando as altas habilidades
não só a fatores genéticos, mas também a fatores neurobiológicos, os quais se
potencializariam com os estímulos ambientais.
Conforme estudos
de Mrazik & Dombrowski (2010) há uma tendência no envolvimento do
hemisfério direito nos aspectos cognitivos dos indivíduos superdotados. Ainda
conforme os autores supracitados crianças superdotadas e com habilidades
matemáticas e musicais apresentam uma bilateralidade hemisférica e também uma
simetria nos usos das funções cognitivas (participação dos 2 hemisférios nos
processos cognitivos).
O Hemisfério
direito parece estar categoricamente mais envolvido em processos que em
indivíduos com inteligência normal são atribuídos ao hemisfério esquerdo. Em um
estudo realizado com estudantes com altas habilidades coreanos, comparando os
padrões eletroencefalográficos com jovens estudantes com inteligência normal,
mostraram que o hemisfério direito é dominante na alocação de funções corticais
em indivíduos superdotados.
Estes estudos
apontam uma consistência em pesquisas que relacionam uma assimetria frontal,
maior atividade do córtex direito em sujeitos superdotados, sendo assim este
podendo se caracterizar como um marcador fisiológico da superdotação.
Um estudo
realizado por O’Boyle (2005) nos EUA, submeteu indivíduos normais e
superdotados a FMRI (Functional magnetic resonance imaging – ressonância
magnética) para analisar os padrões de ativações cerebrais destes sujeitos.
Esta pesquisa revelou uma ativação de regiões como o córtex pré-frontal;
cingulado anterior e regiões parietais posteriores, as quais encontram-se
relacionadas com atividades que demandam maior carga de raciocínio. No entanto
este estudo revelou que indivíduos superdotados não têm uma estrutura cerebral
diferenciada, mas sim interconexões cerebrais mais fortes do que indivíduos com
padrões de inteligência normal, corroborando assim com estudos que sustentam a
teoria de que superdotados tem “esquemas” cerebrais mais sofisticados que se
tornam ativos em tarefas cognitivas de alto nível.
Um estudo
realizado por Klingberg (2002), comparando a ativação cerebral de sujeitos
superdotados, utilizando como critério a faixa etária, submeteu crianças de 9
anos e adolescentes mais velhos ao FMRI, os resultado apontaram uma maior
ativação de regiões parietais, porém com o aumento da idade vai ocorrendo um
menor envolvimento das funções do córtex pré frontal nos aspectos cognitivos
destes indivíduos.
Um atributo
exclusivo dos indivíduos com altas habilidades é a criatividade, estes sujeitos
conseguem olhar para determinadas situações por perspectivas diferentes,
autores como Carson et al. (2003) relacionam esta capacidade a um rebaixamento
das funções inibitórias. O córtex pré frontal é responsável pelo controle
inibitório, função esta que encontra-se visivelmente diminuída em indivíduos
superdotados, o que os faz ficarem livres das restrições típicas do raciocínio.
De certo modo
esta capacidade singular dos indivíduos com altas habilidades pode estar
relacionada com a habilidade que os mesmos apresentam em perseverar em suas
tarefas e melhorar a sua performance em tal atividade, o que relaciona-se com o
menor envolvimento do córtex pré-frontal e um maior envolvimento de áreas
parietais (Mrazik & Dombrowski, 2010).
HIPÓTESE PRÉ-NATAL PROPOSTA POR MARTIN
MRAZIK & STEFAN C. DOMBROWSKI (2010)
Estes autores
propõem que uma interrupção microscópica dos processos cerebrais durante o
desenvolvimento fetal: como proliferação neuronal; migração; mielinização e
apoptose, possa estar intimamente relacionada com os aspectos da superdotação.
Considerando uma
proliferação neuronal reforçada em certas partes do córtex; Apoptose (poda
neuronal) não ocorrer em determinadas partes do cérebro; ou uma migração
desordenada de neurônios que deveriam ir para áreas de linguagem irem para
áreas parietais, por exemplo, que encontram-se relacionadas com habilidades
matemáticas, raciocínio visuo-espacial e musical, explicariam a atividade
aumentada nos lobos parietais de indivíduos com altas habilidades.
Desta forma,
este redirecionamento da migração neuronal pode ser a explicação para os
problemas de linguagem frequentemente encontrados em indivíduos com altas
habilidades, como dislexia por exemplo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- Alexander, J. E., O'Boyle, M. W. and Benbow, C. P. 1996. Developmentally advanced EEG alpha power in gifted male and female adolescents. International Journal of Psychophysiology: Official Journal of the International Organization of Psychophysiology, 23(1/ 2): 25–31.
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Metacognitiva.
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dificultades del aprendizaje, 54 (supl
1) p. 21-29.
- PINTO R.R.M.; FLEITH D.S. 2004. Avaliação das práticas educacionais de um programa de atendimento a alunos superdotados e talentosos. Rev. Psicologia escolar e educacional. Vol 8, num. 1; p. 55-66.
- ANTUNES A.M.P. 2008. O apoio psico-educativo a alunos com altas habilidades: Um programa de enriquecimento numa escola inclusiva. Tese de doutorado. Disponível em: < http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/8817/1/Tese%20de%20Ana%20Maria%20Pereira%20Antunes.pdf>. Acesso em: 05 Mar. 2012.
- Kaufman, S. B. & Sternberg, R. J. (2008). Conceptions of giftedness. Em S. I. Pfeiffer (Ed.). Handbook of giftedness in children (pp. 71-91). Tallahassee, FL: Springer.
- Sternberg, R. J.1993. Procedures for identifying intellectual potential in the gifted: A perspective on alternative “Metaphors of Mind”. In K. Heller, F. Mönks, & A. H. Passow (Eds.), International handbook of research and development of giftedness and talent (pp. 185-208). Oxford: Pergamon Press.
- PASSOS C.S.; BARBOSA A.J.G. 2011. Características de superdotação em um par de gêmeos monozigóticos. Rev. Psico-USF, vol.16, num. 03. Set/dez, p. 317-326.
- Um olhar para as altas habilidades: construindo caminhos. Secretaria da Educação, CENP/CAPE; organização, Christina Menna Barreto Cupertino. – São Paulo : FDE, 2008.
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